Diretor esperou quase 20 anos para conseguir tirar o filme “Vitória” do papel e conversou com protagonista da história real
“Vitória”, estrelado por Fernanda Montenegro, se baseia em história real e demorou quase duas décadas para sair do papel. A demora, entretanto, se deve ao fato do filme abordar temática delicada, com direção de Andrucha Waddington. O diretor teve contato com a protagonista dos acontecimentos quando ela ainda estava em programa de proteção à testemunha.
“Vitória”: filme demorou quase 20 anos para sair do papel
O filme acompanha Vitória (Fernanda Montenegro), uma senhora solitária, que, aflita com a violência que passa a tomar conta da sua vizinhança. Como resultado, começa a filmar da janela, registrando a movimentação de traficantes de drogas por meses, com a intenção de cooperar com a polícia.
Responsável por dirigir o filme, Andrucha Waddington, também casado com Fernanda Torres e, portanto, genro de Fernanda Montenegro, enfrentou algumas dificuldades para conseguir tirar o projeto do papel. Por outro lado, o diretor conseguiu até conversar com a protagonista da história real.

Os crimes foram registrados por Joana da Paz, a grande responsável por desmascarar uma quadrilha de traficantes, bem como policiais corruptos. Assim como no filme, Joana conquistou o apoio e ajuda de um jornalista, Fabio Gusmão, que revelou os detalhes em matéria publicada em 2005.
Quando a reportagem veio à tona, no entanto, Joana adotou o nome “Vitória” e se viu obrigada a viver “escondida” até a morte, em 2023. “Uma semana após a matéria do Fábio Gusmão sair no Jornal Extra, encontrei com ele e disse que queria fazer um filme inspirado na vida de Dona Vitória, mas tinha medo de expô-la”, relembrou Waddington, em material obtido pela CNN.
Andrucha Waddington esperou para gravar “Vitória”
“Achava que seria bom esperar uns 20 anos, pois sabia que ela havia entrado para o programa de proteção”, justificou o diretor. “Passada uma década, Fábio já havia escrito o livro sobre a história de Dona Vitória e Breno Silveira me ligou demonstrando enorme desejo de realizar o filme, eu achei ótimo e passei todo o material para ele desenvolver o projeto”.
Breno Silveira, porém, morreu no começo das gravações, em maio de 2022, quando Waddington assumiu a direção. Nos bastidores, o diretor afirmou ter tido o cuidado de que o filme não caísse no “melodrama de uma senhora frágil e amedrontada”.

“Minha busca foi construir essa personagem enfatizando sua humanidade com seus sonhos e fragilidades. Ela é uma personagem extraordinária, uma mulher fiel aos seus princípios e disposta a ultrapassar os limites de sua vida cotidiana para lutar pelo que acredita ser certo”.
Diretor do filme “Vitória” conversou com Joana da Paz
De acordo com Waddington, Dona Joana sempre demonstrou receio de ser reconhecida ou encontrada por aqueles que foram prejudicados com as gravações. “Todas as decisões criativas buscaram distanciar sua identidade da personagem Nina, garantindo sua segurança”, explicou o diretor.
“Por esse motivo, todo o material registrado durante as conversas de pesquisa foi filmado contra uma parede, já que Joana temia até mesmo que o ambiente ao seu redor pudesse revelar sua identidade e localização”. A protagonista morreu em 22 de fevereiro de 2023, meses após a conclusão das filmagens.
“‘Vitória’ fala sobre uma situação social brasileira presente em praticamente toda grande cidade do país, através de uma heroína improvável e sua relação com um repórter incansável, que lhe estende as mãos e faz de tudo para a proteger até as últimas consequências, criando uma linda história de amor fraterno entre os dois”.