Gabriela Medeiros falou abertamente sobre o processo de transição de gênero e a falta de apoio da família
Gabriela Medeiros, que ficou ainda mais conhecida após interpretar Buba no remake de “Renascer”, é uma mulher trans, assim como sua protagonista na novela. A atriz, atualmente com 23 anos, optou por passar pelo processo de transição de gênero quando tinha 18 e confessou ter sido muito difícil.
Gabriela Medeiros passou por transição de gênero aos 18 anos
Em declaração ao Conversa com Bial, da TV Globo, em setembro, Gabriela garantiu que, apesar de ter certeza do que queria, o processo de transição de gênero demandou muito emocionalmente.
“É uma coisa muito interna. Não é fácil, sabe? Eu sinto que tem se banalizado um pouco. É uma trend ser uma mulher trans? É um conteúdo que só vai te dar view? Vai te dar retorno? O que é ser mulher? É um produto? É botar um salto? Ter um cabelo até aqui [longo]?”, refletiu a atriz.
“Eu acho que é a essência. É uma coisa muito de dentro, tão forte que quando eu me olhava no espelho, eu falava: ‘não’ […] É uma coisa que quase explode”. De acordo com a atriz, a maior luta foi contra a sua própria vontade, de início, chegando a desistir.
“Foi muito difícil mesmo, porque eu tentei lutar muito contra isso. Eu cheguei começar a transição, ai eu destransicionei. Fiquei com muito medo. E aí eu fui tomando força, comecei a pesquisar ajuda e falei: ‘Vou tentar ser da forma como me pedem para ser'”.
“Eu não quero abdicar o amor da minha família. Eu não quero abdicar de ser amada’. Mas aí eu entrei no lugar de ‘eu não vou me abandonar’. E aí, para mim, esse foi o maior ato de amor que eu já fiz por mim”, concluiu a atriz.
Anteriormente, em entrevista para a Vogue, em abril, Gabriela detalhou um pouco mais dos sentimentos. “Desconforto, incômodo e desânimo. Essas palavras me perseguiam como ninguém. Eu nunca tive dúvida da minha essência e de quem eu sou, mas eu tinha medo”.
“Nunca sei por onde começar, mas de certo me transporto para uma analogia linda no qual se refere o processo da borboleta. Assim como ela, eu nasci e não me identifiquei com o que via no espelho. Desde criança nunca tive dúvida, sempre soube o que eu era”.
Quando Gabriela Medeiros decidiu que passaria pela transição
A atriz, no entanto, teve um sonho revelador, nesse meio tempo, confirmando o caminho que deveria seguir. “Mas me recordo de pedir para Deus me mostrar a minha essência, e tive um sonho que saía do corpo e entrava dentro dele e via uma mulher linda com um cabelo enorme até os pés, adormecida”.
“É muito doloroso ver que você simplesmente não se enxerga da forma como foi imposta. Essa adolescência foi apagada, pois eu não vivenciei o que de fato eu queria. Lembro de colocar terno e chorar muito quando me via no espelho, para ir a alguma festinha de 15 anos ou até mesmo em um casamento de alguém da família”.
“Eu tinha medo. Medo de verbalizar isso, medo de externalizar, medo de falar para a minha família, medo de não ser amada, medo de não conseguir um emprego… medo, medo e mais medo. Fui entendendo cada parte de mim e busquei ajuda profissional e psicológica. Tudo isso sozinha, pois preferi manter esse processo isolado da minha família, sem que houvesse interferência. Sabia que não teria o devido apoio”.
A família, em contrapartida, não recebeu bem a notícia, mas passou a aceitar com o tempo. “Comecei a me entender cada vez mais, e comuniquei a família, que não recebeu isso tão bem logo de cara. Não fui expulsa, ou jogada para fora de casa. Mas sofri o silenciamento, o distanciamento deles, o olhar de não aprovação. Com o tempo foram entendendo e a borboleta começou a ganhar asas”, relembrou a atriz.
“Um momento marcante foi quando comecei a comprar as roupas que eu sempre quis usar. Me senti liberta e finalmente de acordo comigo. A borboleta ganhou asas e hoje ela está voando por aí. Minha motivação continua sendo ao encontro do meu âmago, cada vez mais, buscando minha compreensão existencial no mundo. Na jornada do amadurecimento é necessário nos escutarmos com carinho e amor”.