Snoop Amado, que tinha 15 anos quando presenciou a chacina, colaborou como sobrevivente em “Os Quatro da Candelária”
“Os Quatro da Candelária” contou com o apoio de alguns sobreviventes, que deram depoimentos à produção da série da Netflix, contribuindo para os fatos reais mostrados no streaming. Entre eles, José Luiz dos Santos, conhecido como Snoop Amado, participou ativamente dos bastidores.
“Os Quatro da Candelária”: sobrevivente da chacina na série
A chacina da Candelária, que aconteceu em 23 de julho de 1993, no Rio de Janeiro, corresponde a um dos episódios mais tensos da história do Brasil. Durante o crime, oito jovens, que dormiam em frente à igreja da Candelária no centro da cidade, entre 11 e 19 anos, foram assassinados.
Posteriormente, nas investigações, descobriu-se que os autores dos disparos eram milicianos, que usavam a praça em torno da igreja como ponto de venda de drogas. Como resultado, seis menores e dois maiores morreram e várias crianças e adolescentes ficaram gravemente feridos.
Snoop Amado tinha 15 anos quando a chacina aconteceu. Atualmente, com 46 anos, José Luiz trabalhou como produtor e consultor da série da Netflix, que se tornou viral, permanecendo no Top 10 após a estreia.
Os dois policiais envolvidos no crime e um ex-policial foram condenados, presos em seguida e soltos anos depois. Snoop, portanto, morou três anos fora do país no Programa de Proteção a Vítimas e Testemunhas Ameaçadas.
De acordo com informações do Estadão, Snoop inspirou a história de Jesus, interpretado por Andrei Marques, que vira destaque no quarto episódio da minissérie. Além de dar detalhes da história para o diretor, Luis Lomenha, o sobrevivente teria ainda ajudado na escolha do elenco.
Os dois já tinham trabalhado juntos, anteriormente, na série documental “Sob Traçantes” (2018), do canal Futura, que traz histórias de superação de vítimas de violência extrema. Apesar dos traumas que carrega até hoje, Snoop se emocionou ao ter sua história contada pela Netflix.
“Chorei muito, foi muito difícil, superar não tem como”, declarou ao jornal. “Me derramei vendo a série porque são momentos muito cruciais para mim. E se não fosse minha esposa ao meu lado, talvez eu não suportasse, eu largaria tudo. Ainda que seja importante para a sociedade, a gente contar, relatar, denunciando, abre feridas [relembrar o passado]”.
Sobrevivente inspirou história de Jesus em “Os Quatro da Candelária”
Após retornar ao Brasil, Snoop conseguiu, portanto, refazer sua vida. O jovem foi acolhido em uma instituição filantrópica administrada por um casal de idosos, que cuidava de 70 crianças na época, onde permaneceria por mais quatro anos.
No entanto, a oportunidade mudou a vida de Snoop, para sempre. “Eles me colocaram para estudar, me ensinaram, me deram a oportunidade de conhecer a música, a arte. Na escola, eu conheci minha esposa. Já estamos há vinte e quatro anos juntos”.
Snoop, eventualmente, se tornou pai e hoje tem filhos de 7 e 22 anos. O sobrevivente trabalha como como assistente administrativo da produtora Kromaki que, em parceria com a Jabuti Filmes, de Luis Lomenha, realizou o projeto da série sobre a chacina da candelária.
Anos antes, Snoop trabalhou como motorista para produções da Globo e Record, emissora onde ganhou esse apelido, após os atores das novelas bíblicas ressaltarem sua semelhança com o rapper Snoop Dogg. O sobrevivente da Candelária chegou a colaborar, por exemplo, nos bastidores de “O Rico e o Lázaro” (2017) e “Jesus” (2018).
“Tinha um elenco de idade na Record, e eu sempre procurava ajudá-los a subir na van, sendo cordial, e isso chamou a atenção da produção. Chegou ao ponto que o elenco só queria ir trabalhar só na minha van, do estúdio para o set de filmagem. Aí foi uma oportunidade de virar assistente de produção lá na Casablanca da Record”.
“Os Quatro da Candelária” está disponível no catálogo da Netflix.