Valéria Barcellos, intérprete da personagem Luana Shine em “Terra e Paixão” (TV Globo), tem uma longa trajetória artística, mas somente agora, aos 43 anos de idade, passou a ser conhecida pelo grande público. Ainda assim, a atriz se diz “privilegiada” e afirma que sua presença nas telas, além de entreter, pode colaborar para avanços na sociedade.
Trajetória de Valéria Barcellos
Valéria Barcellos fez sua estreia nas novelas em “Terra e Paixão”, mas já pode se orgulhar de uma longa carreira na música e nas artes cênicas. O reconhecimento por parte da mídia pode até ter sido um pouco tardio, mas isso não diminui o entusiasmo da atriz, segundo revelou em entrevista ao jornal “O Globo”.
“De vez em quando, me pergunto se estou sonhando. Pensando que a expectativa de vida de uma mulher trans no Brasil é de 35 anos, e, se ela for negra, cai para 28, eu estou muito no bônus. Sou muito privilegiada”, declarou.
Nascida em Santo Ângelo, cidade do interior do Rio Grande do Sul, Valéria contou que enfrentou “um desafio gigantesco” para conseguir manter vivo o sonho de cantar e atuar e que, em períodos em que não conseguia trabalho, chegou a passar fome e até a dormir na rua.
“Parece que, no Brasil, uma pessoa trans ou uma pessoa preta precisa passar por todas essas dificuldades para ter algo. E não é isso que a gente quer. Precisamos ter oportunidades. Eu, com a minha exposição, quero ser uma facilitadora neste sentido”, disse a atriz, que hoje se considera a inspiração que não tinha na infância.
“Quando eu era jovem, costumava ver a representação de pessoas trans na TV. Não era algo fidedigno. Agora, há esse movimento no audiovisual pela representatividade. Isso é muito significativo. Tenho recebido muitas mensagens nas redes falando sobre isso e me sinto orgulhosa”, pontuou.
Na entrevista, Valéria Barcellos ainda relembrou sua luta contra um câncer, afirmou que tem certeza de que está curada e, de forma inspiradora, até fez um paralelo entre a doença e o preconceito que sofre até hoje.
“O câncer foi muito difícil, mas de longe um dos menores problemas que eu passei. A doença eu consegui superar com o tratamento. Agora, para o preconceito que eu enfrento todos os dias, ainda não há um remédio. A solução é realmente a convivência e a consciência. Não há uma pílula”, concluiu.