Gabriela Loran, atriz trans no ar em “Três Graças”, se descobriu através da arte e enfrentou muito preconceito e assédio
Gabriela Loran, atualmente no ar como a Viviane de “Três Graças”, é uma atriz trans, que conquistou um marco muito especial na Globo. Primeira transgênero no elenco de “Malhação”, em 2018, ela se descobriu no teatro e hoje também trabalha como modelo, palestrante, youtuber e influenciadora digital.
Conheça mais sobre a atriz!
Gabriela Loran é trans: atriz se descobriu no teatro
Nascida em São Gonçalo, no Rio de Janeiro, Gabriela Loran se formou em Artes Cênicas na Casa das Artes de Laranjeiras (CAL). Além de “Malhação”, a atriz foi a primeira trans em muitos trabalhos que fez ao longo de sua trajetória, se redescobrindo através da carreira artística.
Desde pequena, Gabriela sabia que queria fazer parte do meio artístico, mas a falta de condições da família, humilde, adiou um pouco esse sonho. Para conseguir estudar na CAL, a atriz alugou um quarto em uma casa na zona sul da capital e arrumou um emprego no Outback para ajudar com as despesas.
“Entrava no Outback cinco da tarde, saía quatro da manhã; entrava na CAL sete da manhã, saía da CAL três da tarde. Ganhava muito bem, mas não tinha vida”, relembrou, em entrevista à Quem, em 2022. “Na CAL, todo final de semestre a gente montava um espetáculo. Eu ia para a sala de aula e dormia, não conseguia ficar acordada”.

Eventualmente, Gabriela, antes Gabriel, se redescobriu nos palcos, iniciando a transição de gênero aos 23 anos. “No teatro também me descobri, desabrochei enquanto mulher trans. Eu comecei Gabriel e terminei Gabriela. Nunca sentei com meus pais e falei ‘olha, eu sou isso, sou aquilo’. Eu nunca estive dentro de armário nenhum”.
“Odeio esse negócio de estava dentro do armário, saiu do armário. Eu não sabia quem eu era, como é que eu vou sair de um lugar que eu nem sei quem eu sou?”, questionou, em seguida. De acordo com a atriz, a aceitação da família veio de forma natural, mas não sem alguns preconceitos.
“Fui aprendendo e ensinando a eles. E eles foram aprendendo comigo e nunca me questionaram. Não teve o ‘por que que você está vestindo essa roupa?’. Eles sempre viam, percebiam, mas tratavam com humanidade. Eles começaram a humanizar a minha existência”.
Gabriela Loran desabafa sobre dificuldades da transição
Durante essa época, Gabriela, portanto, começou a compartilhar vídeos no YouTube, detalhando sua transição. A ideia era suprir a falta de relatos que a própria atriz sentia sobre o processo, dos hormônios à libido, mas resultou em um extremo alcance. Como resultado, começou a investir na carreira de influenciadora digital.
O processo, no entanto, foi marcado por comentários preconceituosos e assédio. “O homem que me xinga na rua é o homem que chega em casa e vê vídeo sobre mim. O nosso corpo é colocado em um lugar em que ele só vale para ser assediado, xingado e consumido através da prostituição”, afirmou Gabriela.

Segundo a atriz, o assédio aumenta quando descobrem que é trans. “Aí querem saber se sou operada, se não sei o quê… E caímos de novo na fetichização do corpo trans, e eu não quero ser endeusada e nem tratada como lixo. Quero ser humana”.
“O Gabriel sofreu discriminação só racial. Nunca sofri assédio quando era Gabriel, mas sempre fui muito, muito feminino, e as pessoas odeiam tudo que está associado ao feminino, então diria que ali eu era colocada em um lugar de diminuição. A partir do Gabis, eu não era [na percepção alheia] nem ele, nem ela, mas um gênero fluido no qual que eu já habitava as roupas femininas. Ali o assédio começa. E, como Gabriela”.
Gabriela Loran tentou cometer suicídio
Quando ainda era adolescente, Gabriela tentou cometer suicídio por não conseguir lidar com o machismo. “Foi um momento muito difícil porque a sociedade machista não colaborava com minha existência e eu não via referências. Eu não podia ser eu, não entendia o que tinha de ‘errado’ comigo ou por que sofria tanto preconceito por ser quem eu era”.
“Você tem a pressão da escola, o bullying, a questão familiar – mesmo em uma família amorosa como a minha – e tudo tende a fazer com quem você enfraqueça. Eu tive esse momento de achar que eu tinha que romper com tudo porque não queria sofrer mais”, relembrou ainda. “Não deu certo e, na hora, lembrei o que o que eu representava para família e, por mais que eles não entendessem, eu não queria que eles sofressem. Por isso digo que as pessoas trans não se matam, elas são suicidadas por um sistema tóxico e transfóbico”.

Com acompanhamento psicológico, Gabriela passou pelo processo de transição, “etapa por etapa”, nas palavras dela, retomando sua autoconfiança e amor próprio. “Hoje quando eu me vejo no espelho, não tem como me sentir de outra forma a não ser maravilhosa. Porque eu construí esse momento, desconstruí e reconstruí o que é beleza para mim, também”.
“A gente quer se enquadrar nos padrões. Já alisei meu cabelo, já fiz isso, aquilo. Hoje faço tudo a partir do que eu gosto e me sinto bem. E não para representar um tipo de padrão. Por isso que quando falam ‘ai, você nem parece trans’, isso não é um elogio. Eu tenho orgulho de ser trans do jeito que eu sou. A minha imagem é trans. Eu eu também exalto a beleza trans”.
Carreira de Gabriela Loran
Como atriz, Gabriela foi a primeira mulher trans a viver uma personagem trans em “Malhação – Vidas Brasileiras” (2018), no papel da professora de dança Priscilla. Em seguida, interpretou Giovana em “Arcanjo Renegado”, série do Globoplay de 2020 e Luana em “Cara e Coragem” (2022).
Em 2024, Gabriela também fez uma participação especial no remake de Renascer (2024) como Maitê, amiga de Buba (Gabriela Medeiros). Antes de ser chamada para “Três Graças”, a atriz passou pela cirurgia de redesignação sexual na Tailândia, dividindo a emoção que sentiu ao conferir o resultado.

“Lembro de chegar no hotel e me debulhar em lágrimas. Queria ter palavras para descrever o sentimento e a sensação que senti. Mas é algo realmente surreal. É como se eu sempre estivesse sido assim. Mas ao mesmo tempo é tudo novo. . Loucura, loucura! Sonhos se tornam realidade”, afirmou, no Instagram.
Paralelamente à trajetória como atriz, Gabriela também começou no curso de Psicologia, com o objetivo de ajudar mulheres trans. “Há profissionais que se dizem especialistas em gênero e acaba que os pacientes ensinam mais do que recebem. E a vivência ajuda nesse sentido. Além disso, o trabalho de atriz é muito inconstante, quero ter uma renda fixa e meu consultório”.

