Por que uma cena de “Malhação” virou caso de polícia e como Globo pode ser afetada?

*Matéria publicada em 01/06/2017.

A atual temporada da novela global “Malhação” está dando o que falar. Com cinco protagonistas e histórias de superação e empoderamento, “Viva as Diferenças” não tem medo de falar de assuntos polêmicos, mas agora, uma cena específica virou caso de polícia – e pode render uma representação contra a Globo, na Procuradoria Geral da República.

Cena com policiais racistas em “Malhação”

Na última terça (30), o capítulo da trama teen mostrou os personagens Anderson (Juan Paiva) e Tina (Ana Hikari) sendo abordados por policiais, enquanto andavam de moto. Enquanto checava os documentos do casal, o PM tirou sarro do rapaz e o chamou de “negão”, sem acreditar que ele estivesse namorando Tina. Irritada, a jovem o acusa de racismo, e quase vai parar na delegacia.

“E como é que tenho que falar, então?”, questiona o policial. Anderson defende a namorada, dizendo “Deixa ela, mano”, e o PM reage de forma agressiva, apontando o dedo na cara do rapaz. “Escuta aqui, não estou falando contigo, e mano é gente da tua cor”.

Veja um trecho da cena a seguir:

Nota de repúdio da Polícia Militar

Em nota, a PM declarou-se “revoltada” com a cena exibida, e acusou a emissora de generalizar a Instituição com uma atitude racista inaceitável. Eles defendem que a Polícia Militar “segue fielmente os princípios constitucionais e basilares do respeito aos Direitos Humanos, pautada na filosofia de Polícia Comunitária e com ênfase na Gestão pela Qualidade, com intuito de bem servir a sociedade e de atender a seus múltiplos anseios, com o compromisso de defender a vida, a integridade física e a dignidade das pessoas”.

Os deputados federais Major Olímpio (SD-SP) e Capitão Augusto (PR-SP), que já foram policiais militares, também criticaram a cena da novela, afirmando a abertura de uma representação na Procuradoria e no Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações contra a emissora. 

https://www.facebook.com/olimpio.major/videos/807286582768108/

Em um vídeo, Olímpio protocola a decisão, defendendo que a Globo não poderia ter retratado a PM dessa forma. “São cenas em que aparecem artistas vestidos com o uniforme que são fac-símiles aos da Polícia Militar, bem como a viatura, induzindo à população que os policiais são criminosos, preconceituosos, em relação à raça, à cor, que são violentos e que são corruptos recebendo propina. Não pode acontecer isso. Fomos ao Ministério das Comunicações porque a Rede Globo tem concessão pública para operar como veículo de comunicação”.

O parlamentar argumenta que a Globo teria violado os artigos 220 e 221 da Constituição, por “veicular programa de televisão, em 30 de maio de 2017, ofensivo à instituição pública com caráter discriminatório e de estímulo a práticas racistas contra pessoa de origem oriental e negra”. Ele também pede que o ministério adote medidas legais no campo administrativo, em desfavor à Globo.

Resposta da emissora e próximos passos

Globo

Procurada pelo VIX, a Comunicação da Globo emitiu um posicionamento oficial, dizendo que não recebeu a representação citada. A emissora reforça a premissa de “Viva a Diferença”, que é mostrar a convivência de pessoas de culturas distintas e “recriar, livremente, situações que podem ocorrer na vida real”. Confira a declaração completa:

Não recebemos a representação citada, tomamos conhecimento apenas pela imprensa. A atual temporada de ‘Malhação’, chamada ‘Viva a Diferença’, se propõe exatamente a discutir as diferenças culturais, sociais, de opiniões, de raça, tão presentes no Brasil. A trama explora as dificuldades e as belezas da convivência de pessoas tão diferentes e fala sobre respeitar a opinião, a posição e a cultura do outro. A intenção é mostrar como a convivência entre diferentes tribos pode ser enriquecedora. Como uma obra de ficção, ‘Malhação’ recria, livremente, situações que podem ocorrer na vida real, buscando apenas tecer o pano de fundo para suas histórias.

Dessa forma, judicialmente, nada pode acontecer com a emissora por enquanto, já que a Procuradoria Geral da República ainda está analisando o caso.

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