O que é incel? Termo foi explorado na série “Adolescência” da Netflix

Fenômeno global na Netflix, “Adolescência” explora o universo incel, formando por homens ressentidos e, por vezes, violentos

“Adolescência”, série britânica que fez um sucesso estrondoso em escala global na Netflix, acompanha o caso sombrio de Jamie Miller (Owen Cooper), preso pelo assassinato de uma colega de escola, aos 13 anos. Por meio das investigações e julgamento, a produção reviveu o termo “incel”, que se refere a um movimento sombrio, com influência direta sobre as atitudes do garoto. Entenda o significado!

“Adolescência” na Netflix: o que significa o termo “incel”

Com forte impacto social, “Adolescência” aborda alguns temas, como, por exemplo, a masculinidade tóxica, a violência online e o universo dos incels. O termo surgiu ainda nos anos 1990 como abreviação de “celibatários involuntários” (involuntary celibates, em tradução para o inglês).

Incel, portanto, se refere a pessoas que se descrevem como incapazes de ter um relacionamento ou uma vida sexual, embora desejem estar em uma relação. Os incels, além disso, culpam abertamente as mulheres por seu “fracasso sexual”, em manifestos publicados em diversos fóruns da web.

pai de "Adolescência"
Stephen Graham e Owen Cooper como Eddie e Jamie Miller em “Adolescência” (Crédito: Divulgação/Netflix)

Em contrapartida, os incels partem da premissa de que todas seriam interesseiras e oportunistas, preocupadas apenas com dinheiro e aparência. Para o grupo, as mulheres, da mesma forma, também são promiscuas e manipuladoras.

O mundo dos incels, em contrapartida, ganhou mais força com a chegada das redes sociais, se espalhando por vários países. As ideias, assim como foi mostrado pela série da Netflix, podem resultar em atos impulsivos e violentos.

Em 2021, por exemplo, Jake Davison, que divulgava muitas ideias associadas aos incels em suas redes, matou cinco pessoas no norte da Inglaterra. Anteriormente, em 2014, Elliot Rodger, considerado um herói por algumas comunidades incels, assassinou seis pessoas em Isla Vista, na Califórnia.

"Adolescência"
“Adolescência” (Crédito: Reprodução/Netflix)

Incel: quem faz parte do grupo mostrado em “Adolescência”

Os homens que participam desses fóruns constantemente manifestam misoginia e uma sensação de frustração diante de um suposto direito ao sexo que acreditam ser negado pelas mulheres. Florence Keen, pesquisadora do tema no Centro Internacional para o Estudo da Radicalização do King’s College, em Londres, disse à BBC que, em 2021, um dos maiores fóruns tinha 13 mil membros ativos.

“A ressalva que sempre faço é que não podemos afirmar que toda a subcultura incel seja violenta”, defende a profissional. Enquanto alguns idolatram a violência contra as mulheres ou homens em relações felizes, outros membros argumentam que “isso não é o que somos”.

“De certo modo, parece que eu odeio as mulheres. Tento não ser assim, mas às vezes falo coisas que realmente não deveria, só porque estive lendo esses fóruns”, declarou um entrevistado, identificado como Liam, sobre o contato com a comunidade incel.

“Adolescência” aborda a pílula negra em enredo

A pílula negra, citada em um dos momentos da série, representa um despertar para uma suposta verdade escondida, nascendo no universo “Matrix” (1999). Os incels, em contrapartida, incentivam os seguidores a tomá-la, como confirmação de que seu destino está selado desde o nascimento por forças que não podem controlar.

Como resultado, a pílula os faria perceber que são oprimidos pelo feminismo e por outras forças que os impediriam de levar uma vida plena. Os responsáveis legais, posteriormente, começaram um monitoramento do conteúdo desses fóruns, contando com o apoio de pesquisadores para encontrar respostas.

pai de "Adolescência"
Stephen Graham como Eddie Miller em “Adolescência” (Crédito: Divulgação/Netflix)

Diante da proposta das autoridades britânicas de classificar os incels como “terroristas”, um estudo da Universidade de Swansea concluiu que o problema deveria, na verdade, “ser combatido mais como uma questão de saúde mental do que por meio de operações antiterroristas”.

“Se quisermos romper esse ciclo, precisamos oferecer apoio em saúde mental, porque, se esses jovens não cuidam de si mesmos, também não vão se importar com os outros”, disse à BBC o psiquiatra Andrew Thomas, da Universidade de Swansea, que participou da pesquisa.

“Quando você supervaloriza mentalmente a importância da aparência física para as mulheres e subestima o peso da gentileza, começa a buscar evidências que confirmem essa visão de mundo”, defendeu também o profissional.

Com apenas quatro episódios, “Adolescência” está disponível no catálogo da Netflix.

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