Desde o início de março de 2017, uma notícia está abalando o cenário de Hollywood: uma possível nova greve dos roteiristas em um clima nada amigável.
Os membros do Sindicado dos Roteiristas dos Estados Unidos ( WGA) se reuniram com representantes da AMPTP (Aliança de Produções Televisivas e Cinematográficas) para renegociar o contrato sindical entre as duas partes, que vence a cada três anos.
Em votação apenas para os membros do WGA – quase 12 mil profissionais, entre roteiristas de televisão e de cinema -, a paralização foi aprovada com 96,3%.
Caso não haja um acordo com os estúdios antes do dia 1° de maio, o que tem grandes chances de acontecer, os profissionais param de escrever e começam a fazer piquetes.
Os membros do comitê de negociação do WGA reuniram em um vídeo os por quês de uma possível greve acontecer. “Nós criamos o conteúdo que é visto ao redor do mundo e as companhias estão lucrando em cima deste. Precisamos ter em mente o poder que temos nas negociações, para que possamos ter um contrato justo e voltar à produção”, afirmou Zoanne Clack, produtora de TV nos Estados Unidos e representante do sindicato.
“Estamos apenas tentando ter uma pequena parte em um lucro gigantesco”, disse Glenn Mazzara. O vídeo foi disponibilizado somente em inglês, mas você pode ativar a legenda em português clicando em “traduzir automaticamente”. Confira abaixo:
Entenda a greve dos roteiristas de Hollywood
Atualmente, há uma produção muito maior de séries – cerca de 40% a mais do que em 2015. No entanto, os estúdios de TV estão encomendando menos episódios por temporada do que no passado – antes eram entre 22 e 24 capítulos, agora entre 10 e 13. Ou seja, escrever para uma série gera menos renda e mais tempo depois das mudanças.
Além disso, se analisarmos o contrato de um roteirista, perceberemos uma cláusula de exclusividade, a qual indica que o profissional só pode escrever para uma série por vez – o que os tira do mercado por pelo menos um ano.
Já os roteiristas de cinema se dizem prejudicados porque os grandes estúdios estão produzindo menos filmes e reduziram os investimentos no desenvolvimento de roteiros.
Em uma carta enviada, o comitê da WGA afirmava que a indústria hollywoodiana lucrou US$ 51 bilhões (cerca de R$ 160 bilhões) em 2016 e que a parte do valor que cabe aos produtores e roteiristas é quase nada.
Ainda de acordo com WGA, a renda anual de um profissional de nível médio caiu 23% desde 2015, estando hoje em torno de US$ 195 mil (cerca de R$ 612 mil). Conclusão: para ter o mesmo salário de dois anos atrás, um roteirista tem que trabalhar bem mais do que em apenas um projeto por ano.
Por essas razões, a comissão diretora do WGA apresentou propostas que reivindicam:
- Os ganhos “modestos” para roteiristas;
- Melhorias na política de licença familiar;
- Melhores condições para roteiristas de programas de variedades;
- Aumento de 3%, no mínimo, tanto para os roteiristas de TV como para os de cinema;
- Melhores condições de plano de saúde do sindicato (já que parte dele é pago pelo fundo de pensão do próprio sindicato, que, segundo relatório, está em déficit há dois anos)
Apesar das exigências, os estúdios de televisão e cinema não cedem à pressão. Isso porque estes enfrentam uma crise e têm um futuro incerto. Não é novidade que os consumidores cada vez mais deixam os caros pacotes de TV a cabo de lado para optar por serviços de streaming com os mesmos serviços, como é o caso da Netflix e da Globo Play. Além disso, não há mais lucros com a venda de DVDs e a audiência do cinema não passa por crescimento, com exceção dos longas-metragens que se tornam blockbusters.
Os dois lados ainda estão longe de chegar a um acordo. Antes do WGA e da AMPTP concluírem as negociações, o sindicado dos roteiristas vai fazer a votação com seus membros autorizando ou não uma greve. O contrato que ainda está em vigor termina à meia-noite do dia 1° de maio.
Se a greve realmente acontecer, não é possível saber quanto tempo terá de duração.
Greve dos roteiristas de 2007
Algo bastante parecido ocorreu com o sindicato dos roteiristas em 2007, provocando também uma greve. Foram 100 dias de paralisação, causando um prejuízo de US$ 2,1 bilhões (R$ 6,6 bilhões) para a indústria de entretenimento de Hollywood.
Mais de 12 mil roteiristas estiveram envolvidos na greve, que imediatamente paralisou a produção de inúmeros talk shows e séries de televisão – entre elas “The Big Bang Theory”, “How I Met Your Mother”, “House”, “Prision Break” e “Saturday Night Live”.
Foi durante esta greve que a audiência televisiva nos EUA despencou, sem jamais se recuperar por completo. Nessa época, se popularizaram os programas sem roteiro: os reality shows.
O que pode acontecer com a sua série preferida?
Caso a greve dos roteiristas de Hollywood realmente aconteça, as séries que estreiam no segundo semestre de 2017 serão as mais afetadas. Não seria possível afirmar que o lançamento dessas temporadas realmente ocorreria, já que a produção e o roteiro seriam prejudicados. São séries como “The Walking Dead”, “How To Get Away With Murder” e “The Crown”, por exemplo.
Além disso, as produções previstas para 2018 também seriam comprometidas, já que o processo de roteiro e gravações seria atrasado, afetando ainda mais nomes de sucesso como “Grey’s Anatomy”, “Scandal”, “The Big Bang Theory” e “Stranger Things”.
Hollywood e séries
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