Como o amado Bill Cosby se tornou inimigo da América

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Entre os anos 1960 e 80, Bill Cosby quebrou o paradigma de que entertainers de TV deveriam ser pessoas brancas e bem vestidas. Seu programa “The Bill Cosby Show” tornou-se referência não apenas por um negro comandá-lo, mas por mostrar ao público que esse negro também poderia ser inteligente, carismático e muito engraçado.

Desde então, sua carreira como ator deslanchou. Ele fez filmes de sucesso, como “Aconteceu Num Sábado” (1974) e “Emergência Maluca” (1976), além de empreender outros programas de sucesso na TV, como “Gordo Alberto & A Turma do Cosby” e, nos anos 1980, “The Cosby Show”.

Apesar da grande influência de Cosby como comediante, todas as notícias sobre o astro, hoje com 77 anos, miram em polêmicas sobre abuso sexual e estupro de diversas mulheres. Algumas delas já haviam aparecido em programas norte-americanos, dizendo que o ator costumava dar sedativos às mulheres com quem queria ter relações sexuais – algo que chegou a admitir sob juramento, em 2005, como revelam documentos judiciais.

A superexposição do caso Cosby levanta importante discussão: até quando a alta posição de um criminoso pode se tornar fator de opressão em casos de abuso sexual?

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Ao menos 35 vítimas decidiram soltar a voz, como mostrou a “New York Magazine” em julho deste ano. Os escândalos ganharam novamente os holofotes após o comediante Hannibal Buress clamar durante um monólogo na Filadélfia (EUA) para que o público reabrisse o caso: “Digitem ‘Bill Cosby estupro’ no Google. Essa merda dá muito mais resultados que Hannibal Buress”, provocou.

A partir de então, muitas mulheres começaram a dar detalhes de como foram vítimas de Cosby. “Ele ganhou minha confiança quando eu era uma jovem atriz de 17 anos, em 1985, me manipulou para que o visse como uma figura paterna e, então, se aproveitou de mim diversas vezes”, contou a modelo Barbara Bowman em artigo para o jornal “Washington Post”.

A também modelo Beverly Johnson escreveu na “Vanity Fair” que nutria admiração por Cosby desde criança e, quando teve a oportunidade de participar de um show, foi convidada pelo astro a ir à casa dele. Pela noite, ele lhe ofereceu um cappuccino: “Soube no segundo gole daquela bebida que Cosby me deu que eu estava drogada – e bem drogada”.l

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Em outubro deste ano Cosby terá que depor por conta de outro caso: a californiana Judy Hutch o acusou de forçá-la a fazer sexo na mansão da Playboy, em 1974, quando ela tinha apenas 15 anos. Será o primeiro julgamento de Cosby diante de um juiz após os diversos casos de estupro e violência sexual que têm surgido.

A bolha estourou agora, mas houveram outras tentativas no passado de fazer com que Cosby fosse punido por seus crimes. Em 2004, uma mulher teve seu caso arquivado ao alegar que o apresentador a estuprou, mas, segundo Barbara, o apresentador selou um ‘acordo’ para que o caso não chegasse aos holofotes. Por volta de 2006, outro acordo extrajudicial impediu que a reputação do ator fosse manchada.

Bill Cosby me estuprou. Por que as pessoas levaram 30 anos para acreditar na minha história?”, clamou Barbara. Junto a ela, dezenas de outras vítimas surgiram, para que os crimes não fiquem escondidos no tapete do “papai favorito da América” – título que pode ser expurgado, já que há um grupo pedindo para que a Medalha Presidencial da Liberdade, entregue em 2002 ao comediante, seja retirada, para “remediar esta injustiça”.