“Anne With An E”: drama, fantasia e feminismo se misturam em série da Netflix

Sem alarde, mas com muito carisma, “Anne With An E” conquistou os fãs da Netflix com a história da órfã Anne Shirley. Baseada no livro “Anne of Green Gables” (L.M. Montgomery), de 1908, a série levanta vários temas e tabus atuais – feminismo, adoção, bullying, preconceito e o conceito de “família” são alguns dos assuntos que nos conectam ao mundo de Anne de forma muito leve e cativante.

Produzida pela Netflix e pela produtora canadense CBC Television (de “Heartland”), a série conta a história de Anne Shirley, adotada por engano por um casal de irmãos que, na verdade, queria um garoto para ajudar nas atividades da fazenda. Sem coragem de desfazer a troca, os dois acabam recebendo uma garota cheia de imaginação e completamente desajustada para a sociedade do final do século 19.

Crítica de “Anne With an E”: vale a pena assistir

Drama x fantasia

Apesar dos momentos fantasiosos e das situações engraçadas geradas por uma menina muito inventiva e pouco habilidosa socialmente, “Anne” é um drama. Basta olhar com um pouco mais atenção a história de abandono, carência afetiva e sensação de não pertencimento da protagonista para sentir a tensão da série.

O visual romântico e encantado contrasta com a sociedade que tenta (sem sucesso) podar a criatividade de Anne e sua capacidade de enxergar a realidade de uma forma muito única, poética e dramática.

Além disso, a série discute um tema ainda não muito presente na cultura pop, ao menos não de forma tão intensa, que é o sentimento da criança. O sofrimento de Anne ao relembrar o passado cruel, ser rejeitada pela sociedade e, no início, pela família que a adotou, é de cortar o coração.

“Anne With An E” mostra que sentimentos complexos, confusão e sofrimento não são exclusividade do mundo adulto e que a autonomia e a identidade de uma pessoa já nascem com ela.

Mulheres protagonistas

“Em Anne With An E”, o protagonismo é feminino e um dos pontos altos da série é o foco nos diversos tipos de relações estabelecidas entre elas e com a sociedade. O período marca uma efervescência de mulheres que começam a questionar seu papel como esposas e donas de casa, mas que ainda são repreendidas (pelos outros e entre elas) e dificilmente conseguem levar seus questionamentos adiante.

Anne é uma delas – mesmo sem saber. Justamente por não conhecer muito bem as relações sociais, ela ignora muitas delas. Falar sobre a possibilidade de não querer se casar ou mesmo comentar com as amigas sobre sua primeira menstruação – assunto que era um tabu sem tamanho – a distanciou de algumas mulheres e a aproximou de outras.

Com sensibilidade, a série passa ainda pela solidariedade entre mulheres, pela amizade e lealdade. Enquanto a relação que Anne desenvolve com mulheres mais velhas é de admiração e inspiração, com as garotas de sua idade seu papel é despertar nelas alguma vontade de questionar o modelo em que vivem.

Família

O que no início seria apenas um “negócio”, já que os irmãos Cuthbert procuravam apenas um garoto que pudesse trabalhar com eles, torna-se uma adoção familiar quando Anne chega por engano. O acontecimento rapidamente se torna assunto entre a comunidade local e a garota é sempre taxada como “a órfã” à primeira vista.

O desenvolvimento dos laços entre ela e seus novos pais – que não são casados – vai conquistar também quem está assistindo. A sensação é de que sem muita pretensão de se tornar uma grande história, “Anne” oferece um romance de época leve, simples, mas com uma beleza – na imagem e nos discursos – muito marcante.

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