“Adolescência” chama a atenção pela ousadia de seu formato cinematográfico, filmando cada episódio em um único plano-sequência, sem cortes ou edição digital
A minissérie britânica “Adolescência”, da Netflix, se destaca pela sua abordagem cinematográfica inovadora: cada um dos seus episódios foi filmado em um único plano-sequência, sem edições digitais ou cortes invisíveis. A produção, que explora o caso de Jamie Miller (Owen Cooper), um adolescente suspeito de assassinato, é um exemplo ousado de como a narrativa pode ser transmitida com continuidade e realismo, criando uma experiência imersiva.
“Adolescência”: entenda como a série foi gravada

A minissérie “Adolescência” chamou atenção por sua abordagem única de filmagem: a produção foi gravada em plano-sequência, ou seja, sem cortes ou edição digital para criar a ilusão de um filme contínuo.
A história segue Jamie Miller, um adolescente de 13 anos, que se vê no centro de um assassinato, com a trama se desenrolando em tempo real, desde a abordagem policial até o interrogatório. O diretor Philip Barantini, conhecido por seu estilo cinematográfico contínuo, e o diretor de fotografia Matthew Lewis, foram os principais responsáveis pela execução desse projeto ousado.
Segundo Lewis à Variety, “não há costura de takes. Era uma única tomada do começo ao fim, quer eu quisesse ou não”. Isso significa que as cenas foram filmadas de forma ininterrupta, sem cortes para ajustar ou transitar entre diferentes takes, o que exigiu um nível de precisão e sincronização nunca antes visto em produções desse tipo. A escolha por filmar sem edição digital e sem truques cinematográficos demonstrou a coragem e a autenticidade da equipe para criar uma experiência imersiva e realista.

Para garantir que tudo acontecesse de forma fluida, a produção adotou uma estratégia que combinava coreografia de movimento e precisão no planejamento dos cenários. A primeira cena, que mostra a invasão policial à casa de Jamie, foi meticulosamente ensaiada. Lewis comparou a preparação ao processo de uma dança, pois a câmera precisava se mover de forma coordenada com os atores, de modo que cada passo e gesto fosse perfeitamente sincronizado.
O segundo episódio, que se passa em uma escola e envolve várias crianças, exigiu ainda mais coordenação. Os professores da escola atuaram como assistentes de direção para garantir que todos os figurantes estivessem no lugar certo, fazendo com que a cena funcionasse sem perder a fluidez e o ritmo. Lewis descreveu o processo como um “verdadeiro caos organizado” à Variety, destacando como a equipe foi fundamental para a execução.
Para evitar que o uso de câmeras na mão se tornasse cansativo para o espectador, a produção usou um DJI Ronin 4D, um estabilizador de última geração. “Testamos várias opções, e essa foi a melhor para garantir suavidade nos movimentos, além de permitir que a câmera fosse passada entre operadores de forma discreta”, explicou Lewis à revista. A escolha do estabilizador foi crucial para manter a continuidade do movimento e garantir uma filmagem sem solavancos.

No terceiro episódio, que foca no interrogatório de Jamie, o desafio foi manter a tensão, já que o cenário era uma sala pequena, sem muito espaço para grandes deslocamentos da câmera. Lewis detalhou que “os planos-sequência funcionam melhor com movimento, mas essa cena se passava em uma sala de interrogatório. Precisávamos criar tensão sem parecer que a câmera estava flutuando sem motivo”. A solução encontrada foi fazer com que pequenos gestos dos personagens, como pegar um copo de água ou mexer no caderno, fossem usados como pontos de transição para novos enquadramentos, mantendo o realismo e a tensão da cena.
Em relação aos efeitos visuais, Lewis esclareceu que, com exceção de momentos impossíveis de filmar de forma contínua, como uma cena passando por uma janela, tudo o mais foi capturado de forma sem interrupções. Isso foi um grande diferencial da produção, pois garantiu que a experiência para o espectador fosse realmente imersiva e autêntica.