Histórias reais de brasileiras inspiraram Aguinaldo Silva no enredo, que apela para questão social, de “Três Graças”
“Três Graças”, a nova novela das nove na Globo, foi inspirada por histórias reais de brasileiras, que enfrentam diariamente vários percalços e impactaram na construção das protagonistas. Escrita por Aguinaldo Silva, a trama aborda temas delicados, como a gravidez na adolescência e o abandono parental, que representam a dura realidade do nosso país.
Histórias reais de brasileiras inspiraram “Três Graças”
De acordo com dados da Fundação Getúlio Vargas, 15% das famílias no país são chefiadas por mães solo. O número cresceu de 9 para 12 milhões de lares nos últimos 12 anos, levando Aguinaldo Silva a um olhar mais atento para o problema, que representa a realidade de muitas brasileiras.
O autor optou pelo enredo de “Três Graças” após uma visita marcante à Maternidade Leila Diniz no Rio de Janeiro. “Vi uma fila enorme de meninas, muitas com 14, 15 anos, algumas acompanhadas pelas mães, outras sozinhas. Nenhuma com um homem ao lado”, relembrou o autor, ao “Globo Repórter”.
Joélly (Alana Cabral), Gerluce (Sophie Charlote) e Ligia (Dira Paes) em “Três Graças” (Crédito: Globo/Estevam Avellar)
“Três Graças” acompanha as trajetórias de Lígia (Dira Paes), Gerluce (Sophie Charlotte) e Joélly (Alana Cabral). Avó, mãe e filha aparecem unidas por histórias de superação, afeto e, sobretudo, acolhimento. O trio mora em uma comunidade fictícia inspirada na Brasilândia, zona norte de São Paulo.
Na vida real, mulheres como Delmara, Janaína, Yeda, Ana Paula e Devanir compartilham experiências semelhantes no Instituto Ser Mãe Solo, localizado na Brasilândia e coordenado pela assistente social Carla Simone Silva. O espaço funciona na laje da casa da fundadora.
No entanto, oferece apoio emocional, orientação e rede de suporte para mais de 130 mulheres que enfrentam os desafios da maternidade sem a presença de um companheiro. “Infelizmente, ainda existe o preconceito de que a mãe solo não conseguiu manter um casamento”, afirmou Carla.
“Três Graças” acompanha problema através de gerações
(Crédito: Globo)
“Três Graças” mostra que Gerluce engravidou aos 16 anos, repetindo a história da mãe, Lígia. Entretanto, por mais que fizesse de tudo para evitar que a filha tivesse o mesmo destino, Joélly também descobre que está esperando um bebê, aos 15.
“É um baque. É a repetição de gerações de mulheres que lutam para sobreviver”, analisou Sophie Charlotte. “Como uma menina preta, aos 18 anos, representar uma garota periférica que engravida é muito significativo”, celebrou Alana Cabral.
Na vida real, Maria Aparecida, moradora da Rocinha, criou sozinha suas filhas e netos. “Tudo na minha vida se baseia na minha neta. Foi a força que eu dei para ela”, afirmou, emocionada, durante a reportagem.
Desafio da gravidez precoce no Brasil
Conforme estudo coordenado pelo Hospital Moinhos de Vento, em parceria com o Ministério da Saúde, o Brasil registra cerca de mil partos por semana de meninas entre 10 e 19 anos. Na Maternidade Leila Diniz, por exemplo, são 500 partos mensais, sendo 20% de mães adolescentes.
“A paciente muito jovem tem mais chances de desenvolver hipertensão, infecções urinárias e complicações para o bebê, como a prematuridade”, alertou a médica Palusa Matos. O objetivo da novela, a princípio, é justamente propor uma reflexão acerca da questão social.
Raul (Paulo Mendes) e Joélly (Alana Cabral) em “Três Graças” (Crédito: Globo/ Estevam Avellar)
“Quando você coloca situações reais na ficção, as pessoas pensam sobre o que acontece com elas e com os outros”, afirmou o diretor artístico, Luiz Henrique Rios. “A gente apresenta a questão para quem está em casa conversar, refletir sobre essa realidade”, reforçou Sophie Charlotte.
