Dona de uma longa lista repleta de personagens “boazinhas”, mulheres do povo que sempre cairam facilmente no gosto do público, Regina Casé aceitou o desafio de interpretar Zoé em ” Todas as Flores” (Rede Globo).
Ainda que sua bagagem seja extensa, porém, ela teve de se desconstruir completamente para entender as muitas camadas da vilã clássica, insensível e manipuladora – e, por isso, disse ter sentido muita aflição ao encarar a personagem de João Emanuel Carneiro.
Regina Casé se viu insegura ao construir Zoé de “Todas as Flores”
Ao mesmo tempo em que demonstrava traços maternais, o comportamento cruel e gélido de Zoé foi uma das coisas que mais chamaram a atenção do público durante a primeira parte de “Todas as Flores” – e a linha tênue entre as duas facetas da vilã foi justamente um dos maiores desafios que Regina Casé teve na trama.
Segundo a atriz, construir a personagem lhe rendeu uma verdadeira crise de identidade, algo que ela revelou durante a coletiva de imprensa da novela, que contou com a presença de Zappeando.
“Eu sempre sonhei em fazer uma vilã, não tinha a menor ideia de como era. Eu sempre fiz personagens, não só muito empáticos, mas personagens que diziam o que eu penso ou mulheres que eu admirava muito” afirmou.
Uma das dificuldades, segundo ela, foi justamente mesclar a “vilã clássica” que mata quem tiver de matar, ela também precisava ter comportamentos doces. É o caso, por exemplo, do encantamento de Zoé por Maíra (Sophie Charlotte).
“Ela não tem uma frase de vilania [nos 15 primeiros capítulos] e isso foi muito difícil para mim. Porque se ela fosse uma monstra [ficaria mais fácil]. Eu comecei a ficar aflita”, revelou.
Sem saber como deixar claro que sua personagem seria uma vilã, Regina ainda brincou sobre ter cogitado fazer cenas comuns – como a de cozinhar o bolo – usando uma expressão “má”, evitando assim confusão com uma personagem boazinha.
“Mulheres assim tem filhos, tem relações diferentes. Não que ela seja uma boa mãe, até porque ela produziu uma Vanessa (Letícia Collin), mas as formas de amar e do jeito como ela conseguia amar, o jeito que ela foi amada e o jeito que ela não foi… Eu fui obrigada a desconstruir essa vilã e sentir o peso de ter uma filha que ela não conhecia, que era cega e outra filha com leucemia, o que maternalizava ela”, avaliou.
Mesmo extremamente gananciosa e parte de uma rede de tráfico humano, Zoé ainda apresenta um lado humano que, de forma rasa, tem carências e afetos. Desta forma, Regina Casé teve de construir uma personagem com inúmeras camadas – desde as mais banais até aquelas que definiram completamente o rumo da história. “Eu não sabia como fazer, fui fazendo meio no susto”, ainda confessou.