Quais as diferenças entre as duas versões de “Pantanal”: novela ganha outro tom

Com a estreia da nova versão de “Pantanal”, não foi apenas o elenco que ganhou uma cara nova, como também a história, que terá um tom muito diferente da versão de Benedito Ruy Barbosa. Adaptando-se aos dias atuais, alguns personagens ganharão pautas mais contemporâneas.

Ao invés da rivalidade feminina apresentada em 1990, a trama terá traços de sororidade, demonstrações de empatia e naturalização de algumas cenas, como os momentos protagonizados por Guta (Luciane Adami) – que escandalizaram a época. Confira as maiores diferenças do remake!

Remake de “Pantanal” ganhará mudanças no tom da história

Joventino (Irandhir Santos) em
Globo/ João Miguel Júnior

Ao mesmo tempo em que busca o máximo de semelhanças com a história original, a nova trama reescrita por Bruno Luperi, neto de Benedito Ruy Barbosa, ganhará traços contemporâneos e um discurso mais atualizado.

Ainda assim, a essência de “Pantanal” permanecerá. Gravada na mesma fazenda utilizada na primeira versão, a produção da novela fez questão, até mesmo, de trazer uma árvore da região para deixar os ambientes internos montados nos estúdios do Rio de Janeiro ainda mais realísticos.

Desta forma, a maior diferença não estará na cenografia, mas sim no discurso. Após se passarem 30 anos, muitas falas e posturas acabaram envelhecendo mal. Durante a coletiva de imprensa da novela, alguns atores revelaram detalhes sobre o novo tom que a trama ganhará.

“Hoje, em 2022, começamos a perceber que tem coisas que achávamos normais, mas que não são normais”, revelou Isabel Teixeira, que interpretará Maria ‘Bruaca’ na história.

Nova visão do sofrimento de ‘Bruaca’’

Isabel Teixeira interpreta Maria 'Bruca' em
Globo/ João Miguel Júnior

Na história original, a personagem interpretada por Ângela Leal era uma mulher sofrida, frequentemente humilhada por seu marido, Tenório, e que acabava vivendo um caso com Alcides, o peão da fazenda.

Seguindo a mesma linha, a personagem, que agora será de Isabel Teixeira, terá uma grande força interna para se reconstruir. De acordo com a atriz, o casamento da personagem com o vilão nem sempre foi infeliz.

Retratando muitos relacionamentos que se desgastam com o tempo, Isabel afirma que um dia, Maria e Tenório foram loucamente apaixonados um pelo outro, ao ponto de fugirem juntos para se casar.

No entanto, a personagem acaba se perdendo em sua submissão ao marido, sendo resgatada por sua filha, Guta, papel de Julia Dalavia nesta versão. “A Guta traz uma visão nova do feminino para a Maria ‘Bruaca’. Com isso, existe um choque, que a vida que ela achava que ela tinha, não era real”, revela a atriz.

Isabel ainda conta que não vê a personagem como uma mulher sofrida, mas, sim, como uma mulher que está em busca de mudanças, se declarando apaixonada por ela e revelando que aprendeu muito com Maria ‘Bruaca’.

Versão com empatia

Aline Borges interpreta Zuleica em
Globo/ João Miguel Júnior

Do outro lado da trama, estará Zuleica, a amante de Tenório, que será interpretada por Aline Borges. Para dar vida ao papel, a atriz conta que viu a importância de atualizar o modo como sua personagem pensaria e agiria.

“Eu entendi que não poderia ter como referência a Zuleica da primeira versão, porque a gente tem 30 anos para frente, então muita coisa mudou”, e ainda explicou: “A Zuleica da atualidade, ela é uma mulher para frente, que não depende desse homem, mas que está ali vivendo esse lugar da segunda mulher durante muito tempo”, conta.

Ainda de acordo com a intérprete da amante de Tenório, sua personagem é uma mulher muito bem resolvida e que sempre soube da existência de Maria ‘Bruaca’, tendo empatia pela situação da mulher renegada pelo próprio marido e se recusando a ser feliz às custas dela.

“O tempo inteiro fica nítido que ela tem uma preocupação, ela insiste para que o Tenório coloque isso em pratos limpos e que essa verdade venha à tona, ela se preocupa com essa mulher, ela tem sororidade, empatia, então é uma mulher que me inspira muito”.

Abordagem racial

Cauê Campos é Roberto em
Globo/ Victor Pollak

Diferente da primeira versão, a família de Zuleica será negra. Antes interpretada por Rosamaria Murtinho, a personagem será mãe de Marcelo (Lucas Leto), Renato (Gabriel Santana) e Roberto (Cauê Campos) e dará um novo tom a este núcleo.

“As coisas mudaram nessa nova versão, a gente está falando de uma família preta, que já é uma outra forma de se pensar. É uma diferença brutal de tudo o que acontece na outra versão”, analisa o ator Cauê Campos.

Ainda de acordo com ele, foi necessário buscar novas referências para o papel, usando a versão de 1990 apenas como base para se criar algo completamente novo.

“Somos todas Guta?”

Julia Dalavia interpreta Guta em
Globo/ João Miguel Júnior

Na época em que a primeira versão foi lançada, a personagem Guta foi interpretada por Luciene Adami e se tornou um verdadeiro escândalo. Em plena década de 1990, a jovem abusava de pensamentos à frente de seu tempo, prezava pela liberdade de seu próprio corpo e protagonizou muitas cenas de nudez.

Hoje, sob a pele de Julia Dalavia, a personagem continuará com a mesma atitude empoderada, mas para a atriz, a participação de Guta não será mais tão chocante quanto foi há 30 anos.

“Naquela época, uma mulher ter a personalidade da Guta, essa liberdade que ela tinha, era muito transgressor. Mas eu acho que, hoje em dia, essa mulher poderia ser qualquer amiga minha, poderia ser minha mãe, a minha tia, poderia ser a gente”, revela.

Para a intérprete da filha de Maria e Tenório, graças ao avanço do feminismo, muitas mulheres foram colocadas em pé de igualdade, fazendo com que atitudes como as de Guta fossem normalizadas nos tempos atuais – algo que fez com que a atriz se identificasse muito com a sua personagem.

Rivalidade entre irmãs

Karine Teles é responsável por Madaleine na segunda fase de
Globo/ João Miguel Júnior

Assim como outras personagens, Madeleine também passou por uma série de mudanças. Hoje à frente da personagem, Karine Teles confessou não ter se inspirado tanto no trabalho de sua antecessora, Ítala Nandi, justamente pela distância temporal entre as versões.

“A Madeleine é uma personagem que sofreu algumas modificações da versão original para cá, por isso eu não tive tanto o trabalho da Ítala [Nandi, intérprete da primeira versão] como referência, porque não me ajudaria”, revelou.

“Acho a Ítala uma grande atriz e tenho a honra de fazer uma personagem que ela já uma vez na vida, mas o meu trabalho de construção da Madeleine foi muito baseado no que a Bruna [Linzmeyer, responsável pela 1ª fase] já estava fazendo”, ainda justificou.

Camila Morgado como Irma na segunda fase de
Globo/ João Miguel Júnior

Na trama, Madeleine se apaixona por José Leôncio, papel de Renato Góes na primeira fase. No entanto, ao mesmo tempo em que a jovem viverá um relacionamento com o fazendeiro, Irma, a irmã dela, também se apaixonará por ele. No começo da novela, o papel foi de Malu Rodrigues.

Mesmo com o passar dos anos, Madeleine e Irma terão uma certa rivalidade, mas para Karine Teles, a sua parceria com Camila Morgado, que é Irma na segunda fase, foi essencial para que elas encontrassem um caminho de amor.

“Eu e a Camila, através da nossa parceria fora da cena, acho que a gente traz, mesmo que secretamente, essa camada do poder da união entre duas mulheres, a gente se apoiou uma na outra”, revelou.

Dessa forma, mesmo que o texto acentue a rivalidade entre as irmãs, a conexão formada entre as duas atrizes da segunda fase fará com que haja amor, balanceando a relação das duas. Além disso, as atrizes chegaram a se surpreender ao descobrir que eram capazes de se utilizar do humor para deixar as cenas mais leves.

As redes sociais

A atriz Victoria Rosseti estreia como Nayara em
Globo/ Fábio Rocha

Sendo algo tão presente na nossa sociedade atual, o assunto não poderia deixar de ser incluído na nova versão de “Pantanal”. Para representar isso, entrou a personagem Nayara, papel de Victoria Rossetti, na trama.

Com relação a esta personagem, as mudanças foram tantas que até mesmo seu nome mudou. Em 1990, o papel foi de Flávia Monteiro e se chamava Nalvinha. Agora, uma jovem superficial muito ligada à internet, ela mostrará como as redes sociais podem tornar alguém tão vazio.

“Ela é alguém que tem essa representatividade da fragilidade que a personalidade das pessoas começou a ter, depois que a rede social começou a entrar muito na nossa vida”, explica a atriz.

Um Zaqueu mais profundo

Silvero Pereira é o Zaquieu em
Globo/ João Miguel Júnior

Na primeira versão da história, Zaqueu, um peão homossexual, foi visto como o alívio cômico da trama. Com seus trejeitos, suas ações e seu amor platônico por Alcides, o personagem acabou sendo satirizado.

Desta vez, com Silvero Pereira à frente do papel, as coisas devem mudar. Apesar de manter o bom humor do personagem, o ator se desafia a levar uma outra interpretação para o público.

“O meu maior desafio no Zaqueu, é que […] este personagem traz uma fala que se mantém igual a versão original, mas na forma de falar, na forma de sentir, é que as pessoas vão ver uma diferença grande do Zaqueu do Silvero para o Zaqueu da primeira versão”, explicou.

Na trama, Zaquieu é mordomo da família Novaes mas se transforma em um peão no Pantanal.
Globo/ João Miguel Júnior

Para o remake, o personagem ganhará uma camada ainda mais profunda, indo além da comicidade e explorando o lado emocional. “Ele é muito carinhoso, afetuoso e emocional”, detalha o ator.

Na visão do Silvero, levantar temas como estes é essencial para o público, já que a novela, além de entreter, acaba ganhando um papel de ensinar as pessoas. “Faz parte do cotidiano”, analisa.

“Pantanal”