Além de Loquinha de “Três Graças”: 10 casais lésbicos das novelas

Casais lésbicos quebraram estereótipos, preconceitos e aumentaram a representatividade na televisão brasileira

A representação de casais lésbicos nas novelas brasileiras percorreu um longo caminho até os dias atuais. Com destaque para Lorena (Alanis Guillen) e Juquinha (Gabriela Medvedovsky) em “Três Graças”, na faixa nobre da Globo, resgatamos outros pares românticos que fizeram história – além de Loquinha – e ajudaram a quebrar paradigmas através de suas histórias na ficção.

Casais lésbicos das novelas

Glorinha e Roberta (“O Rebu”, 1974)

Glorinha e Roberta foram figuras fundamentais da novela original “O Rebu” (1974), uma vez que protagonizaram um dos primeiros flertes com a temática lésbica na televisão brasileira. Na trama, Roberta (Regina Vianna) seduz a insatisfeita Glorinha (Isabel Ribeiro), esposa de Álvaro.

(Crédito: Globo)

A protagonista utilizava o envolvimento para explorar e questionar o machismo da época. Apesar de o romance ter sido posteriormente modificado ou censurado, a narrativa permanece como um marco de ousadia por desafiar os padrões sociais da década de 70.

Leila e Rafaela (“Torre de Babel”, 1998)

Interpretadas por Silvia Pfeifer e Christiane Torloni, Leila e Rafaela eram um casal maduro e bem-sucedido. As duas viviam juntas e mantinham uma relação estável, mas sem grandes demonstrações físicas de afeto devido à época.

Em contrapartida, a rejeição do público conservador na época foi tão alta que o autor, Silvio de Abreu, decidiu eliminá-las da trama. A trágica morte das duas na explosão do Tropical Shopping marcou “Torre de Babel”.

Leila (Silvia Pfeifer) e Rafaela (Christiane Torloni) em “Torre de Babel” (Crédito: Globo)

O evento, posteriormente, gerou o termo “Síndrome da Lésbica Morta” na teledramaturgia brasileira. Até hoje, no entanto, as duas seguem lembradas pelos fãs, abrindo espaço para outros casais lésbicos nos anos seguintes.

Clara e Rafaela (“Mulheres Apaixonadas”, 2003)

O primeiro casal lésbico que teve a torcida do público em uma novela da Globo envolve as estudantes Clara (Alinne Moraes) e Rafaela (Paula Picarelli) em “Mulheres Apaixonadas” (2003). As duas adolescentes enfrentavam o preconceito na escola e a resistência agressiva da mãe de Clara.

Clara (Alinne Moraes) e Rafaela (Paula Picarelli) em “Mulheres Apaixonadas” (Crédito: Globo)

Apesar disso, a relação era tratada com delicadeza e poesia por Manoel Carlos. Como as pesquisas de audiência indicavam que o público aceitava o romance, mas não queria ver beijo, o autor contornou a situação fazendo as personagens encenarem “Romeu e Julieta” em uma peça escolar, onde trocaram um selinho como parte da atuação.

Jenifer e Eleonora (“Senhora do Destino”, 2004)

Eleonora (Mylla Christie), uma médica, se apaixonava por Jenifer (Bárbara Borges) em “Senhora do Destino”, uma das novelas mais bombásticas de todos os tempos. A dinâmica focava na “normalização”: elas eram femininas, profissionais e buscavam a aceitação da família.

Eleonora (Mylla Christie) e Jenifer (Bárbara Borges) em “Senhora do Destino” (Crédito: Globo)

A novela foi pioneira ao mostrar o casal adotando uma criança e terminando juntas como uma família funcional. Houve cenas consideradas ousadas para a época, como as duas acordando juntas na cama, insinuando que tiveram uma noite de amor.

Marcela e Marina (“Amor e Revolução”, 2011)

Marcela e Marina formaram um casal emblemático na novela “Amor e Revolução”, exibida no SBT em 2011, interpretadas por Giselle Tigre e Luciana Vendramini. Mais do que um romance, a união das personagens fez história ao exibir o primeiro beijo homoafetivo da teledramaturgia brasileira.

Marcela (Luciana Vendramini) e Marina (Giselle Tigre) em “Amor e Revolução” (Crédito: Reprodução/SBT)

Inserida em uma trama que retratava a repressão política dos anos 60, a relação simbolizou amor e resistência. Como resultado, o ato de coragem impactou profundamente o público e tornou-se um marco pessoal e profissional para a própria roteirista.

Marina e Clara (“Em Família”, 2014)

Na novela “Em Família”, Clara (Giovanna Antonelli) era uma dona de casa casada que se descobria apaixonada pela fotógrafa Marina (Tainá Müller). O casal, apelidado de “Clarina”, mobilizou uma legião de fãs nas redes sociais.

(Crédito: Paulo Belote/Globo)

O aguardado beijo e o casamento de branco no final da trama de Manoel Carlos. Foi um marco de aceitação, onde o público torceu ativamente para que Clara deixasse o marido para ficar com a namorada, provando a força e adesão aos casais lésbicos ao longo dos anos.

Teresa e Estela (“Babilônia”, 2015)

No ano seguinte, em “Babilônia”, a Globo destacou um casal de senhoras vividas pelas veteranas Fernanda Montenegro e Nathalia Timberg. Eram advogadas respeitadas, casadas há décadas e com um filho adotivo, que viviam um romance mais maduro e sólido.

Teresa (Fernanda Montenegro) e Estela (Nathalia Timberg) em “Babilônia” (Crédito: Globo/Alex Carvalho)

No primeiro capítulo, o beijo gerou uma onda de protestos de setores conservadores e boicotes à novela, o que obrigou a Globo a reduzir o destaque do casal durante a trama, embora elas tenham permanecido juntas até o fim.

Gabriela e Ilana (“Um Lugar ao Sol”, 2021)

Em “Um Lugar ao Sol”, Gabriela (Natália Lage) e Ilana (Mariana Lima) protagonizam um arco de profunda descoberta pessoal. Embora estivesse em um casamento heterossexual e vivendo a maternidade, Ilana se vê surpreendida por sentimentos inesperados por Gabriela, sua amiga de infância e obstetra.

Gabriela (Natália Lage) e Ilana (Mariana Lima) em “Um Lugar ao Sol” (Crédito: Reprodução/Globo)

A partir desse reencontro, a trama mergulha nos dilemas de uma mulher que precisa confrontar suas próprias estruturas para viver um novo amor. Finalmente, após enfrentar pressões e medos, o relacionamento é selado com um casamento, consolidando-se como mais um momento significativo de representatividade.

Clara e Helena (“Vai na Fé”, 2023)

Em “Vai na Fé”, trama que marcou a faixa das 19h, Clara (Regiane Alves) vivia um casamento abusivo com Theo (Emilio Dantas), pai de seu único filho, até encontrar apoio e amor em sua personal trainer, Helena (Priscila Sztejnman).

(Crédito: Reprodução/Globoplay)

A censura interna da emissora levou ao corte de vários beijos gravados. Após forte pressão dos fãs, que viralirazam o termo “Clarena”, em referência ao nome dado para o casal, no Twitter, a Globo finalmente exibiu o beijo e deu um final feliz às duas, celebrando a libertação de Clara.

Cecília e Laís (“Vale Tudo”, 2025)

Cecília (Maeve Jinkings) e Laís (Lorena Lima) formam um casal central no remake de Vale Tudo, onde gerenciam uma pousada sustentável em Paraty. Diferente da versão de 1988, na qual a relação era tratada com discrição e terminava em tragédia com a morte de Cecília, a nova trama aposta em um avanço na representatividade.

(Crédito: Divulgação/Globo)

Embora o vilão Marco Aurélio (Alexandre Nero) tente interferir na união e na herança da irmã, seus planos são frustrados pela recuperação de Cecília. Dessa forma, a história deixa de ser sobre luto para se tornar uma celebração do amor e da vitória do casal contra a homofobia.