Bruno Luperi detalha recriação de “Renascer”: “Tirar foto do nosso tempo e apresentar ao Brasil”

Após o sucesso de “Pantanal” em 2022, Bruno Luperi, dramaturgo e neto de Benedito Ruy Barbosa, está prestes a estrear na TV Globo outra adaptação dele de uma obra originalmente escrita pelo avô.

Em 2024, o remake de “Renascer” entra no horário nobre da emissora – e, em conversa com a imprensa, Luperi falou sobre o processo de adaptação da trama de 1993 para a atualidade, detalhando como a relação com o avô se faz presente nisso.

Bruno Luperi fala sobre processo de recriar “Renascer”

Reescrevendo “ Renascer” com base na obra do avô, Benedito Ruy Barbosa, o dramaturgo Bruno Luperi explicou o processo pelo qual a história passou para se ambientar nos dias atuais.

Em uma coletiva de imprensa, ele afirmou que enxerga novelas como retratos de uma época, e explicou que a dificuldade que encontrou em “Pantanal” se repete no remake do folhetim de 1993.

Remake da novela
Globo/Fábio Rocha

“O tempo escreve junto com a gente. Esses trinta anos que se passaram, se fosse de 1960 para 1990 ou de 1970 para 2000, seriam menos impactantes, mas a gente tem o advento da internet e da rede social, uma polarização grande tomando conta do mundo. De 2012 para trás, é quase uma história diferente, outra era”, pontuou o autor.

Luperi afirmou que, no processo de revisitar a “Renascer” original, ele também foi de encontro à própria infância. “Me debruçando sobre o trabalho do meu avô, encontro um retrato da minha família, do modo como fui criado, dos valores que me foram transmitidos, da dinâmica familiar”, contou, compartilhando a ideia de que alguns valores já não se aplicam mais e que, portanto, foram substituídos.

Juliana Paes como Jacutinga para o remake de
Globo/Fabio Rocha

“A Jacutinga naquela primeira versão era uma mulher muito oprimida, apesar de forte. Não se tinha uma consciência na sociedade de quanto o patriarcado e o machismo eram dominantes. Aquilo era um modus operandi. Tento olhar para o nosso tempo e tirar uma foto parecida dessa nossa sociedade”, pontuou.

Na sequência, ele relembrou o processo criativo do avô, afirmando que se inspira na forma como ele se entregava às tramas com neutralidade. “Quando vejo a obra dele, vejo claramente o quanto ele é despido da vaidade de querer estar certo quando escreve”, disse ele, explicando como aplica isso em seu trabalho.

“A dramaturgia, quando bem feita, é um espelho. Não me compete ficar apontando o dedo para a sociedade, mas apresentar um retrato para a gente evoluir junto. […] Tento dar o que tenho de melhor para tirar a melhor foto do nosso tempo e apresentar para o Brasil sem nenhum juízo de valor, sem pretensão de estar certo ou errado”, disse Luperi.

Bruno Luperi (à esquerda) e o avô, Benedito Ruy Barbosa (à direita)
Globo/Divulgação | TV Globo / João Miguel Júnior

Além disso, o autor citou ainda a relação especial que tem com “Renascer” e contou que foi vendo o avô escrevê-la que ele sentiu o primeiro “chamado” desse ofício.

“Tenho uma forte imagem dele chorando e sorrindo, chorando e escrevendo, chorando e se relacionando com aquele texto de maneira tão visceral… Lembro vivamente da imagem dele chorando e escrevendo, e de eu desejar: ‘Um dia quero viver disso, de me emocionar’”, afirmou.

Remake de “Renascer”