Por que “Emilia Peréz” é tão odiado? Entenda as polêmicas do nosso rival no Oscar

“Emilia Peréz”, destaque do Oscar, coleciona polêmicas e acusações de xenofobia e transfobia nos bastidores

Apesar de ter recebido 13 indicações ao Oscar 2025, “Emilia Peréz” foi considerado um filme odiado pelo público, sobretudo pelas polêmicas de bastidores. Dividindo opiniões, inclusive, da crítica especializada, o longa que concorre ao título de Melhor Filme sofreu críticas também de comunidades. Entenda!

Polêmicas com “Emilia Peréz”: por que o filme se tornou odiado

Representação trans

Críticos e associações ligadas à comunidade LGBTQIA+ criticaram “Emilia Pérez” por usar a identidade transgênero da protagonista como um arco de redenção para escapar de seu passado cruel no cartel de drogas.

No filme que fez barulho nas principais premiações, um narcotraficante mexicano desaparece e ressurge como mulher trans, com a nova identidade de Emília Peréz (Karla Sofía Gascón), se libertando de sua vida anterior.

“Emília Peréz” (Crédito: Shanna Besson/Page 114/Why Not Productions/Pathé Films)

De acordo com o portal Pink News, o filme “perde todas as nuances quando se trata de identidade trans”. Da mesma forma a GLAAD o apontou como um “retrato profundamente retrógrado de uma mulher trans” e classificou o indicado ao Oscar como um “retrocesso na representação trans”.

Polêmica com Karla Sofía Gascón

Karla acusou a equipe de Fernanda Torres, sua concorrente ao prêmio com “Ainda Estou Aqui”, de supostamente promover ataques a ela nas redes sociais. Após a repercussão em veículos americanos, a atriz recebeu comentários negativos dos brasileiros, lamentando a situação.

Fernanda Torres, como resultado, gravou um vídeo de apoio, negando qualquer rivalidade entre elas. Entretanto, Karla voltou a se pronunciar sobre os ataques para ela e para “Emilia Peréz”, apontando “pessoas que trabalham no ambiente” como culpadas.

“Estava me referindo à toxicidade e ao discurso de ódio violento nas mídias sociais que infelizmente continuo a vivenciar”, justificou Karla, defendendo Fernanda Torres. “Ninguém diretamente ligado a ela foi nada além de solidário e extremamente generoso”.

Fernanda Torres
(Crédito: Matt Winkelmeyer/Getty Images)

Internautas, em seguida, resgataram publicações antigas de Karla Sofía Gascón no X, com comentários de tom racista, homofóbico e xenofóbico, além de posicionamentos antivacina e críticas a famosos. A atriz criticou a própria Selena Gomez – que faz parte do elenco.

A atriz, mais uma vez, lamentou a situação. “Quero reconhecer a conversa em torno de minhas postagens anteriores nas redes sociais que causaram mágoa. Como alguém em uma comunidade marginalizada, conheço muito bem esse sofrimento e lamento profundamente aqueles que causei dor. Durante toda a minha vida, lutei por um mundo melhor. Acredito que a luz sempre triunfará sobre a escuridão”.

Diretor de “Emilia Peréz” se decepcionou com atriz

Jacques Audiard, responsável pela direção, lamentou o climão envolvendo a protagonista. “Isso me deixa muito triste. A confiança que compartilhamos, a atmosfera excepcional que tínhamos no set que era de fato baseada na confiança”.

“E quando você tem esse tipo de relacionamento e de repente você lê algo que essa pessoa disse, coisas que são absolutamente odiosas e dignas de serem odiadas, é claro que esse relacionamento é afetado”, desabafou, ao Deadline. “O que Karla Sofía disse é imperdoável”.

Jacques Audiard (Crédito: Shanna Besson/Page 114/Why Not Productions/Pathé Films)

A atriz, portanto, se afastou de entrevistas e campanhas para divulgar o longa. “Após a entrevista do Jacques, pelo que entendi, decidi, pelo filme, pelo Jacques, pelo elenco, pela equipe incrível que merece, pela linda aventura que todos tivemos juntos, deixar o trabalho falar por si, esperando que meu silêncio permita que o filme seja apreciado pelo que é, uma bela ode ao amor e à diferença. Peço sinceras desculpas a todos que foram feridos ao longo do caminho”.

Falta de protagonistas mexicanas

As seis protagonistas quase não incluem atrizes mexicanas, fato que também gerou críticas, com exceção de Adriana Paz, a única no elenco. Karla Sofia Gascon é espanhola, enquanto Zoe Saldaña e Selena Gomez, que completam o trio de destaque, são americanas.

O diretor francês, no entanto, tentou se explicar em entrevista ao The Hollywood Reporter. “E então não me lembro exatamente como aconteceu, mas em um período muito curto de tempo, conheci Karla Sofía Gascón… E então conheci Zoe [Saldaña] no Zoom, e algo apareceu muito claramente para mim”.

Críticas para Selena Gomez

Selena Gomez não fala espanhol fluente e, consequentemente, apresentou um mal desempenho no idioma em seu papel, sofrendo críticas por isso. O ator mexicano Eugenio Derbez, por exemplo, classificou a atução da atriz como “indefensável”.

Além disso, Eugenio atribuiu o péssimo desempenho do filme com a falta de fluência de Selena, em participação em podcast com Gaby Meza, que concordou. “Selena é indefensável. Eu estava lá [assistindo ao filme] com outras pessoas, e toda vez que aparecia uma cena [com a participação de Selena], olhávamos uns para os outros e dizíamos: ‘Nossa, o que é isso?”.

Selena Gomez em “Emilia Peréz” (Crédito: Shanna Besson/Page 114/Why Not Productions/Pathé Films)

Retrato do México

O filme, posteriormente, lidou com ataques pela representação caricata do México, em visão de um diretor estrangeiro. Jacques Audiard disse que visitou o México “três ou quatro vezes”, mas acreditou que basear as gravações lá poderia ser limitante.

“Fizemos a busca de locações. Fizemos algumas seleções de elenco. E acho que foi no final da terceira visita que percebi que, se trabalhasse nessas locações reais, ficaria preso ao chão”, justificou. “Eu tinha todas essas imagens em minha cabeça, e essas imagens não caberiam nas ruas do México”.

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