Curiosidade sobre os Coen: eles são dois dos cineastas mais originais que o cinema americano nos deu, e mesmo assim eles enfatizam os mesmos motivos e temas ao longo do seu trabalho. Cada filme dos irmãos Coen é distinto do seu próprio jeito – você nunca vai confundi-los – e mesmo assim eles trafegam constantemente nos mesmos elementos das histórias, personagens e situações. Por conseguirem fazer isso com tanta maestria, merecem uma lista dos seus melhores filmes! Descubra quais são!
“Arizona Nunca Mais” (1986)
É uma das obras-primas dos irmãos Coen – seu filme mais engraçado e bem possivelmente o mais mordaz. Nicolas Cage é (sim) um ex-presidiário obscuro e lento; Holly Hunter é a esposa esperta de um policial. Eles não podem ter filhos, então eles decidem roubar um de uma fornada de quíntuplos recém-nascidos de um magnata dos móveis. Perseguições de carro, prisioneiros foragidos, ciclistas sobrenaturais vindos do inferno, vizinhos excitados… Uma vez que começa, a dinâmica do filme nunca para. Entre toda a estilização e ritmo arriscado, com diálogos bem rápidos, o filme é uma história de partir o coração sobre duas pessoas desesperadas para começar uma família e assim se tornarem parte de algo maior, mais nobre.
“Onde Os Fracos Não Têm Vez” (2007)
O filme que rendeu aos irmãos o Oscar de Melhor Filme parece, à primeira vista, bem diferente do estilo deles. É uma adaptação do livro de Cormac McCarthy sobre um homem (Josh Brolin) que se depara com uma mala cheia de dinheiro de tráfico e é perseguido por um caçador de recompensas implacável (Javier Bardem), e é algo sério, conciso e severo. E mesmo assim, também é marcado pela fascinação pelas reviravoltas do destino e pela loucura humana – é apenas olhar para o personagem inesquecível e mortífero de Bardem, Anton Chigurh – ele é o puro temor personificado. E o filme às vezes é tão sem expressão, tão impassível, que é difícil não sentir que os Coen estão rindo baixinho por baixo de tudo.
“O Grande Lebowski” (1998)
Essa comédia-neo-noir-encontra-maconheiro sobre um ex-hippie (Jeff Bridges, no papel que iria defini-lo para sempre) que acaba sendo puxado para dentro de um mundo noturno de empresários conspiratórios, empresários finos de pornô, criminosos niilistas e atividades surreais variadas se tornou um dos filmes mais duráveis dos diretores. É muito engraçado, com certeza, mas existe algo a mais aqui. Por toda sua comédia absurda, o filme é definido pela sua atmosfera melancólica e crepuscular. Existe uma legião de fãs que promove encontros sobre o filme até hoje.
“Fargo” (1996)
Em um dos filmes mais aclamados dos irmãos Coen, o vendedor de carros perdedor William H. Macy cria um plano bizantino de ter dois criminosos (interpretados por Steve Buscemi e Peter Stormare, ambos inesquecíveis) sequestrarem sua esposa e pedir o resgate dela para seu rico sogro. Conforme isso acontece extremamente fora do planejado, a chefe de polícia prática e grávida Frances McDormand é puxada para dentro da investigação. A mistura de humor fora do padrão e o jeito de filmar extenso faz desse um dos trabalhos mais ambiciosos dos dois. É um filme implacavelmente engraçado, mas também profundamente emocionante. E imagina ricamente todo um universo de caráter e consequência.
“Um Homem Sério” (2009)
Um professor judeu de ciência judeu na Minnesota dos anos 60 (interpretado pelo ótimo Michael Stuhlbarg) luta contra diversos tormentos nesse belo e estranho ‘dramédia’ que talvez seja um dos filmes mais perfeitamente modulados dos Coen. Esse é provavelmente seu trabalho mais questionador: o universo é cruel, indiferente ou sádico? E pode o entendimento de Deus realmente fazer a diferença? É também fascinante pelo seu ângulo pessoal: os Coen cresceram na Minnesota dos anos 60, filhos de um professor de ciência, sob a batuta dos ensinamentos judaicos. E apesar do filme não ser autobiográfico, é difícil não sentir um fraco brilho nesse conto depressivo. Acaba assim que duas novas tragédias em potencial estão para acontecer – sugerindo que todos os eventos anteriores do filme um dia serão coloridos pela nostalgia. Um sentimento tanto terno quanto venenoso: o que acabamos de testemunhar serão as boas memórias, porque o que está para acontecer a seguir pode realmente ser pior. Uma desconstução da religião e um questionamento sobre a fé humana e a existência de destino de fazer chorar um niilista.
“Inside Llewyn Davis: Balada de um Homem Comum” (2013)
Aqui está um filme que, como seu personagem principal, se contradiz conscientemente toda vez. A história é recheada de performances musicais maravilhosas, que ficam no meio do caminho entre a imitação de outras obras e uma cuidadosa recriação. O conto de Llewyn tem todas as marcas de uma jornada de herói típica dos Coen, mas é enfim revelado que é a história de um perdedor em uma competição – enquanto ele é sutilmente substituído nos palcos por um cara chamado Bob Dylan na cena final do filme.