5 razões para entender por que “Spotlight” ganhou Oscar de Melhor Filme

por | jul 26, 2016 | Filmes

Foi uma surpresa. “O Regresso”, filme de Alejandro González Iñarritú, era o favorito para levar a estatueta de Melhor Filme por seu elaborado processo cinematográfico. Tudo bem, o mexicano premiado por “Birdman (ou A Inesperada Virtude da Ignorância)” no ano passado foi laureado com o prêmio de Melhor Diretor, por isso, muitos ficaram surpresos com a conquista do filme “Spotlight: Segredos Revelados” como Melhor Filme de 2015 pela Academia.

Leia também:

“Spotlight” relembra a cobertura do jornal norte-americano The Boston Globe sobre os casos de pedofilia escondidos pelo alto escalão da Igreja Católica na capital de Massachusetts. Dirigido por Tom McCarthy (“O Visitante”), o filme também faturou prêmio de Melhor Roteiro Original (do próprio McCarthy, com Josh Singer).

Confira 5 razões para entender por que “Spotlight” foi o grande vencedor da noite:

#1 Pedofilia na Igreja Católica: tema espinhoso

Pelo menos desde o Papa João Paulo II é conhecida a obscura ligação da Igreja com a pedofilia. Embora Bento XVI não tenha ido adiante em discutir o caso publicamente, o Papa Francisco tem se mostrado empenhado em punir quaisquer sacerdotes que tenham envolvimento com a pedofilia: “Nós não podemos encobrir. Aqueles que os acobertam são culpados, incluindo alguns bispos”. Como deixou bem claro o tema de “Spotlight”, muita gente do alto escalão foi conivente com esses abusos, e este tema precisa ser amplamente discutido na sociedade – principalmente no Brasil, um dos países em que a religião é predominante. Por aqui, também já se confirmou casos semelhantes desses abusos.

Leia também: 5 filmes que abordam temas embaraçosos para a Igreja Católica

#2 Jornalismo investigativo

No mundo todo, as redações de grandes jornais foram ‘enxugadas’, com as demissões em massa se tornando cada vez mais comum. Os jornais não souberam como reagir diante da chegada da internet e, com isso, manter repórteres menos imediatistas e mais investigativos passou a ser um paradigma cada vez maior nas redações. Se a ideia é ter a notícia mais rapidamente, então que este seja o foco, defendem alguns empresários de mídia. No filme, Spotlight é uma das editorias mais prestigiadas do Boston Globe justamente por sua independência: os jornalistas só conseguiram desvendar os crimes de pedofilia cometidos por padres porque tiveram meses para entrevistar, coletar material, contestar dados e investigar as informações a fundo. Num momento em que o jornalismo se enforca em busca do imediatismo, “Spotlight” urge para a retomada de equipes mais comprometidas com a investigação e menos presa aos factoides.

#3 Melhor elenco do ano

Mark Ruffalo e Rachel McAdams ganharam nomeações no Oscar; ele como Mike Rezendes, um personagem que parece distraído, mas denota perspicácia e principalmente insistência na coleta de dados para desvendar os crimes cometidos pelos padres; e ela como Sacha Pfeiffer, que passa por cima de seus princípios religiosos e se mostra corajosa em seguir adiante com a investigação. Como o editor Walter ‘Robby’ Robinson, Michael Keaton deu-nos um belo exemplo do que representa o papel de um editor num jornal. E Ben Bradlee Jr. ( John Slattery) e Marty Baron ( Liev Schreiber) não ficam atrás como os chefões de ideias que convergem um do outro – Bradlee mais apegado à ‘tradição’ do Boston Globe; Baron como o editor-chefe judeu de outro estado que luta pelo prestígio editorial do jornal, que ele deposita nessa investigação do Spotlight.

#4 Roteiro

Getty Images

“Spotlight” ganhou a premiação de Melhor Roteiro Original, e não somente pela história espinhosa que aborda, mas, também, por estabelecer uma trama que questiona a ética e os valores dos jornalistas como profissionais, e do Boston Globe enquanto jornal impresso. Há motivos para que não houvesse uma investigação aprofundada dos crimes de pedofilia na Igreja antes da chegada de Baron. Aos poucos, também, o espectador compreende que os ‘panos quentes’ da Igreja invadem a esfera policial, jurídica e social, afetando os mais vulneráveis a tudo isso: os indefesos.

Leia também: 20 melhores roteiros da história segundo o Sindicato dos Roteiristas

#5 Trabalho em equipe

O Boston Globe só conseguiu publicar a polêmica reportagem porque contou com uma equipe muito bem qualificada. Os três repórteres investigativos tinham funções muito bem delimitadas: Matt Carroll ( Brian d’Arcy James) ficava responsável por checar listas de padres e suas respectivas paróquias; Sacha Pfeiffer ( Rachel McAdams) foi atrás dos padres acusados; e Mike Rezendes ( Mark Ruffalo) era o insistente jornalista por trás do lado judicial da história. Já o editor Walter Robinson ( Michael Keaton) complementava o trabalho dos jornalistas, usando suas relações interpessoais para confirmar os dados conflitantes que tinha em mãos.

Leia também: 10 personagens que formariam a melhor equipe de detetives da TV