Se o mercado musical já estava aquecido com a consagração de serviços de streaming como Spotify, Deezer e Rdio, fervilhou ainda mais com o recente lançamento da plataforma Tidal, comandado por Jay Z com o apoio de artistas superstars como Madonna, Rihanna, Daft Punk, Kanye West, Nicki Minaj, Coldplay, Jack White, Calvin Harris e, claro, sua esposa, Beyoncé.
Gerou polêmica o anúncio justamente porque o streaming tem se mostrado um mercado lucrativo: atualmente, o Spotify tem mais de 10 milhões de assinantes e almeja atingir um valor de mercado de US$ 7 bilhões, por exemplo.
À parte das cifras, existem os royalties: cerca de 30% do faturamento bruto das empresas de streaming são distribuídos aos artistas, por conta dos direitos autorais. Ou seja, são empresas grandes – mas empresas que remuneram os músicos por cada canção reproduzida.
Então, entra a discussão: seria o streaming a melhor forma de combater a pirataria?
Os números provam que sim: segundo o Instituto Opinion Box, usuários de música no Brasil diminuíram em 31% o hábito de baixar arquivos ilegalmente. Tal comportamento caminha lado a lado com o crescimento do uso de serviços de streaming: 28,2% dos internautas brasileiros utilizam Deezer, Spotify, Rdio, Google Play Music e Napster para ouvir música no smartphone, PC ou tablet.
O que favorece a adesão a esses serviços é o custo relativamente baixo: o Deezer, por exemplo, oferece 35 milhões de músicas a um preço de R$ 14,90 mensais. As demais plataformas praticam preços em torno dessa faixa.
Jay Z inaugurou o Tidal estipulando um valor entre US$ 9 e US$ 19 nos Estados Unidos, quantia mais elevada que ele justifica com os diferenciais da plataforma, que incluem a possibilidade de ouvir músicas em FLAC (extensão de arquivo mais fiel ao áudio original que o mp3) e acessar playlists curadas pelos próprios artistas. Atualmente, o Tidal permanece indisponível no Brasil.
“As pessoas não estão respeitando a música, estão desvalorizando-a e desvalorizando o que ela realmente significa”, disse Jay Z em entrevista à Billboard. “Elas realmente sentem que a música é de graça, mas pagariam US$ 6 por uma água. Você pode beber água da torneira, e é uma água boa. Mas elas estão OK pagando pela água. É apenas o hábito do momento”.
Valorizando ou não, o fato é que há muitas intermediações no negócio musical.
Antes do streaming firmar-se como a principal alternativa contra a pirataria, o ouvinte tinha que desembolsar cerca de R$ 20 a R$ 30 em média na compra de um CD. Vinis custam o dobro, por oferecer melhor qualidade sonora.
A despeito da bandeira ‘comprar para remunerar o artista’, os downloads ilegais de mp3 eram a principal via de acesso à obra de determinado músico.
Ora, por que ir à loja se se podia obter a música pelo computador, no conforto de sua casa?
Para deter essa prática, instituições como a British Phonography Industry, no Reino Unido, entraram com petições pedindo para que o Google tirasse de seus resultados de pesquisa blogs e sites que estimulavam a pirataria.
Há três anos, o Governo dos Estados Unidos ordenou que o Megaupload, principal site de compartilhamento de arquivos, fosse fechado. Na esteira, diversos outros também foram barrados.
Por mais que sites de torrent como PirateBay e Kickass permaneçam no ar, principalmente por estarem hospedados em servidores de países onde a pirataria não é considerada criminosa, têm seus resultados restritos nos buscadores.
Sem depender de medidas judiciais, a IFPI (Federação Internacional da Indústria Fonográfica) chegou a padronizar lançamentos mundiais de discos em um único dia da semana (sexta-feira), para evitar ‘vazamentos’ que prejudiquem as vendas de discos, sejam físicos ou digitais.
Entre múltiplas ações para restringir os downloads ilegais, aliadas ao crescimento de empresas que oferecem grandes acervos musicais, o streaming consolidou-se como a plataforma mais fácil e pertinente de encontrar a canção ou o disco de seu artista favorito.
Muitas discussões são e serão levantadas em relação aos lucros das empresas e distribuição de royalties, mas parece que a indústria musical finalmente encontrou a melhor forma de bater de frente contra a pirataria.