Snoop Dogg: “BUSH”
Gravadora: Doggystyle Records/I Am Other/Columbia
A criação do alter-ego Snoop Lion sintetizou a mudança para um regueiro caricato, que se denominava encarnação de Bob Marley.
Fato é que Snoop Dogg tem mudado ao longo dos anos. Mais pop, mais carismático e mais ‘presente’ nas colaborações com artistas renomados, chamá-lo de rapper já não faz mais tanto sentido assim.
Desde que começou a trabalhar com Pharrell Williams, os discos de Snoop Dogg têm sido mais adocicados, mais R&B e menos ‘safadões’. Em suma, menos “Doggystyle” (1993) e mais “The Blue Carpet Treatment” (2006).
“BUSH” tem mais a cara de Pharrell do que imaginaríamos em um disco de Snoop Dogg: em “This City”, imaginamos o músico em um Cadillac chiquérrimo, com roupas brancas. “So Many Pros” bem que poderia ter sido extraído de “Girl” (2014), último álbum de Pharrell: em clima de festinha em torno da piscina, Snoop anima bem. Mas só anima, não oferece nada demais.
Figurinha carimbada em discos alheios, Snoop Dogg também não quis deixar colaboradores de fora: a sensualidade de Gwen Stefani paira em “Run Away”, com clara intenção de soar sexy. Os rappers Kendrick Lamar e Rick Ross estão estampados em “I’m Ya Dogg”, mas não espere um retorno à velha forma: Lamar e Ross caem na onda tranquilona do rapper, relaxados, como se estivessem fumado um…
Impressiona a primeira faixa, que traz o lendário Stevie Wonder: “California Roll” tem o irresistível swing das baladas de “Songs in the Key of Life” (1976) mas, aqui, o cantor assume apenas as gaitas. Frutífera mesmo é a parceria com o cantor Charlie Wilson, em “Peaches N Cream”: sem fugir da proposta funk-R&B, Snoop Dogg deixa que o jovem artista domine. Claro, em “BUSH” espera-se que Snoop Dogg seja mais Snoop Dogg, mas firmeza de identidade não é bem uma virtude a se esperar dele.
Hot Chip: “Why Make Sense?”
Gravadora: Domino
Já no sexto disco, os britânicos do Hot Chip não precisam se apoiar em trilhas de game de futebol. O título lembra o histórico show dos Talking Heads, “Stop Making Sense” (1984), pioneiro na utilização de técnicas digitais de áudio. É complicado falar de inovação no campo da eletrônica dançante (EDM), mas, se o Daft Punk pode roubar diversas ideias dos anos 1980 e clamar pela ‘vida de volta à música’, por que não dar ao Hot Chip o direito de experimentar?
Sem perder a essência, o grupo faz isso bem em “Love is the Future”, conectando rap ao techno. “Cry For You” é batidão indie que se cristaliza aos poucos, enquanto “White Wine and Fried Chicken” é a banda querendo soar baixinho (mas ainda com vocoder) na sua mesa de jantar.
Steve Aoki: “Neon Future II”
Gravadora: Ultra Records
Uma das principais atrações do Tomorrowland Brasil, Steve Aoki chega ao terceiro disco com todas as loas de ser um dos grandes DJs do mundo. Se isso se comprova em disco, é outra história.
“Neon Future II” tem pretensiosas intenções à lá David Guetta, mas não no campo estritamente pop da eletrônica. Claro que os ritmos quebrados, com herança no techno e no dubstep em iguais proporções, não é mais novidade.
O que ele extrai de cantores como Moxie Raia (“I Love It When You Cry”) e Sherry St. Germain (“Heaven On Earth”) não escapam das batidas clichê da EDM, que sempre costumam terminar em festa. Há participações de grandes nomes do pop, como Linkin Park (“Darker Than Blood”), River Cuomo, do Weezer (“Light Years”), e Snoop Dogg atuando como Snoop Lion, em “Youth Dem (Turn Up)”. Cada uma tem o seu balanço, por isso, não dá pra fugir do argumento: Aoki parece mais um oportunista ante os gêneros que um versado DJ para extrair o que melhor eles têm a oferecer. Não é o primeiro, nem será o último a fazer isso.
Leonard Cohen: “Can’t Forget: A Souvenir of the Grand Tour”
Gravadora: Sony
Entre 2008 e 2010, Leonard Cohen fez uma série de shows para arrecadar parte da grana que perdeu para a empresária Kelley Lynch, que surrupiou milhões de sua aposentadoria. Animado com as apresentações, resolveu voltar aos estúdios para gravar “Old Ideas” (2012), que mostrou um bardo complacente com a ideia da velhice.
Graças a este disco suas turnês foram mais disputadas. “Can’t Forget: A Souvenir of the Grand Tour” é o resultado de algumas dessas apresentações em Dublin (Irlanda), Sydney (Austrália), Quebec (Canadá), entre outros shows. Ele relembrou alguns clássicos, como “Field Commander Cohen”, que dá nome àquela que considera sua melhor turnê já feita, em 1979.
O repertório conta, ainda, com “Light as the Breeze” (do álbum “The Future”, de 1992), “Joan of Arc” (de “Old Ideas”) e as inéditas “Never Gave Nobody Trouble” e “Got a Little Secret”. Cinco músicas deste disco estão disponíveis para streaming.
Vários Artistas: “PC Music Vol. 1”
Gravadora: PC Music
No ano passado, um canal do SoundCloud reunia motivos de sobra para mostrar os novos ares que respirava a eletrônica. Nomes como A. G. Cook, Hannah Diamond, SOPHIE e Thy Slaughter, à primeira vista, parecem inventados. O mesmo pode-se dizer de sua sonoridade: “Every Night” parece ter sido composta por bonecas Barbie; “Beautiful” parece estilhaços de uma faixa EDM esquecida numa pasta perdida do computador – quem achou, só fez o favor de acelerar os vocais.
As faixas parecem pilhérias mas, acredite ou não, configuram o novo ‘achado’ da eletrônica pop (a novata cantora Charli XCX, nada besta, já chamou SOPHIE para colaboração).
Estranheza também faz parte da fórmula inovadora que conecta essas 10 diferentes canções do selo PC Music: “USA”, do GFOTY, é um freaky-minimal; “Wannabe”, de Lipgloss Twins, parece o rascunho de uma música péssima, de tão fragmentária que é. Por onde começar, então? Vá em “Keri Baby”, de A. G. Cook e Hannah Diamond: se a sua curiosidade não for despertada aí, veja bem, “PC Music Vol. 1” não é um disco pra você.