Pica-Pau, bruxas e cia.: como a maldade nos desenhos influencia as crianças?

Quem não conhece bem o Pica-Pau pode até assustar-se ao assistir o desenho e ver do que esse anti-herói é capaz. E essa não é a única animação que traz personagens de moral duvidosa ou extremamente maldosos, capazes de envenenar uma maçã para matar alguém.

Mas como eles influenciam as crianças? Será que elas crescem com um entendimento destorcido de maldade e bondade? Respondemos a seguir. 

Como as crianças entendem a maldade nos desenhos

De acordo com a pedagoga e doutoranda em psicologia Giscarla Dantas, ver o Pica-Pau sacaneando alguém ou a Princesa Jujuba (de “Hora de Aventura”) exercendo seu poder, por si só, não tem efeito na cabeça das crianças que assistem os desenhos.

Isso só muda de figura quando os responsáveis usam aquele entretenimento com objetivo educativo. Em uma família religiosa, por exemplo, dizer que o Pica-Pau irá para o inferno por ser tão malvado pode assumir esse peso e, de fato, causar alterações na percepção de maldade pela criança. 

100% bom ou 100% mau?

Sabemos que, no mundo real, ninguém é totalmente ruim, muito menos 100% maldoso. Mas muitas vezes os filmes animados podem mostrar personagens desse jeito, o que acarreta uma visão distorcida da realidade na mente das crianças. O mesmo vale nesse caso: a criança só criará essa polarização de maldade e bondade se for estimulada a isso. “Não é o desenho que vai determinar o bem ou o mal na personalidade. É a maneira como você faz a intervenção, se você quiser fazer uma orientação educativa”, analisa Giscarla.

Para Patrícia Ignacio, doutora em educação e estudos culturais e professora do magistério superior da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, não existe uma dualidade de bem contra o mal nos desenhos. “Existem nuances de diferentes abordagens. Nem todos os personagens são completamente bons ou ruins. No meu trabalho, mostro que no meio do bem também tem coisas ruins”.

A psicóloga Dantas explica ainda que existem outros fatores que influenciam no desenvolvimento da personalidade. A estrutura familiar seria um exemplo desses fatores, daí a importância do complemento adulto ao que foi transmitido no desenho.

Desse modo, não adianta apenas deixar o DVD rolando e esperar que a moral da história e o final feliz concluam uma ideia dentro da cabeça da criança. É preciso conversar com ela, tratar a informação e problematizar a história. Para Patrícia Ignacio, “o que cabe ao adulto é entender que tipos de conhecimentos e valores ele gostaria que seus filhos tivessem acesso”.

Mais sobre animações