O que tantos casos de suicídios de celebridades têm em comum?

O mundo das celebridades é marcado por conquistas, fama e glória, mas também por algumas tragédias difíceis de esquecer. Quando alguma figura pública morre, principalmente de forma inesperada, a comoção é inevitável, mas tudo fica ainda mais intenso quando a pessoa escolhe tirar a própria vida.

O suicídio é um tabu na sociedade e já levou artistas como Heath Ledger, Robin Williams e, o mais recente, Chris Cornell. Mas o que todos esses casos têm em comum, e o que levaria um famoso a se matar?

Depressão ligada à vida pública: limites da fama

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Na noite do dia 18 de maio de 2017, o corpo do músico Chris Cornell foi encontrado no banheiro de um hotel em Detroit, nos Estados Unidos. De acordo com a autópsia, ele fez um show horas antes de ir para o quarto, onde ingeriu remédios para a ansiedade, ligou para a esposa e, meia hora depois, se enforcou.

Foi um acontecimento repentino, que chocou a própria família de Cornell e fãs no mundo inteiro, pois ninguém imaginava que ele seria capaz de fazer uma coisa dessas. Na verdade, o músico sofria de um mal silencioso, que foge da superficialidade e consome as camadas mais profundas de qualquer pessoa: a depressão.

Não é a primeira vez que uma celebridade sofre da doença, e nem será a última. De acordo com a psicóloga Aline Melo, do São Cristóvão Saúde, a fama traz muito benefícios para a vida profissional, mas pode desencadear pensamentos e atitudes destrutivas para o psicológico da pessoa.

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“As cobranças do show business também podem obrigar os famosos a apresentar-se de maneira que não estão visando, afastando a pessoa de seus desejos e de sua personalidade, gerando questionamentos posteriores que o dinheiro e o reconhecimento não vão conseguir suprir”, declarou a especialista.

Foi exatamente o que aconteceu com Cornell. Na última conversa com a esposa, Vicky Karayiannis, o artista revelou estar insatisfeito com a equipe técnica do show, que realizou horas antes. “Eu estourei minha voz, estourei minha voz”, repetiu diversas vezes, segundo o site TMZ, antes de mudar completamente de assunto, sem fazer sentido. Cornell já estava sob efeitos dos medicamentos que ingeriu, antes prescritos para controlar a ansiedade, mas tomados em uma quantidade preocupante, que determinou seu destino.

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Outro caso chocante e emblemático foi o comediante Robin Williams, que tirou a própria vida em 2015, também por asfixia. A representante do ator, Mara Buxbaum, declarou na época que ele estava sofrendo de uma depressão profunda, algo muito questionado pelo público. Se ele fazia comédia, e estava sempre sorrindo, como poderia estar em depressão?

Williams também lutava contra a demência de corpos de Lewy (DCL), uma doença degenerativa que causa o acúmulo de proteínas nas células cerebrais. O quadro agravou-se muito rápido, e o ator pode ter cometido suicídio justamente pela desordem mental causada pelo problema.

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No entanto, a depressão teve uma forte influência, embora seja uma doença incompreendida pelo público. Em 2016, a cantora Selena Gomez deu uma pausa na carreira para tratar o lúpus, e um grave quadro de depressão e ansiedade, causadas principalmente pela pressão da fama e pelas redes sociais. Já recuperada, ela ressaltou a importância de ter cuidado da saúde mental, algo que nem todos os artistas que precisam conseguem fazer.

“Na teoria, uma pessoa fica famosa por realizar um trabalho com excelência, mas isso não quer dizer que ela vai estar preparada emocionalmente para toda a pressão que a fama traz”, explica Aline, “Mas, de maneira geral, é preciso trabalhar muito o emocional e a autoestima, sabendo como receber críticas e como lidar com a constante avaliação do público e da mídia”.

Personagens fortes e suas consequências

Assumir uma vida pública é, também, lidar com algumas regras de conduta que o personagem, criado pela celebridade, precisa seguir. Nos anos 90, o cantor Kurt Cobain, da banda Nirvana, estourou na mídia como líder de toda a geração, do movimento grunge e exemplo de estilo e atitude – quando, na verdade, ele não queria ser nada disso. Perturbado com a fama repentina e com a perda de sua própria essência pessoal, o músico se matou em 1994, aos 27 anos, dando um fim trágico para sua carreira explosiva.

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Outro artista que se deixou levar pelos estereótipos foi o ator Heath Ledger, mas além da influência externa à sua própria pessoa, ele entrou em depressão após interpretar o último papel de sua vida, o Coringa, em “Batman: O Cavaleiro das Trevas”. Antes mesmo das gravações começarem, em meados de 2007, Ledger trancou-se em um apartamento durante um mês, para se preparar psicologicamente para viver o personagem. Porém, o trabalho foi tão intenso que acabou consumindo o ator.

Amigos próximos relataram que ele não conseguia mais dormir, e que se tornou uma pessoa completamente diferente depois do personagem. Ledger teve uma overdose acidental em janeiro de 2008, meses antes da estreia do filme, após misturar remédios para dormir, para ansiedade e para controlar a dor.

De acordo com a psicóloga Fabiane Curvo, da PUC-Rio e responsável pelo site E-terapia, o perfeccionismo pode ser um agravante no psicológico dos famosos, que acabam sempre querendo dar o melhor de si. “Muitos têm dificuldade em lidar com a ideia de cair no ostracismo e, por isso, colocam muita pressão na qualidade de seu trabalho, querendo sempre se superar”, explica Fabiane, “E apesar de todo profissional querer ter seu trabalho reconhecido, isso não significa que ele vai saber lidar com o peso desse reconhecimento”.

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No caso de Ledger, muitos defendem que foi o Coringa que o matou, pois o personagem era um vilão inescrupuloso. O ator queria pensar como ele, e mergulhou de cabeça na interpretação, o que trouxe consequências negativas para a saúde dele – mas, em contrapartida, rendeu a Ledger um Oscar póstumo pelo personagem, em 2009.

O mais provável é que o Coringa tenha despertado sentimentos que estariam adormecidos no ator, como relata o documentário “I Am: Heath Ledger”, no qual amigos e familiares revelam detalhes de sua trajetória. “Ele queria a fama e, quando ele conseguiu, não queria mais”, desabafa o diretor Matt Amato logo no trailer da produção, um dos amigos próximos de Ledger.

Bastidores da fama: ambiente hostil

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Mesmo vivendo na mídia, e tendo que esconder muitos sentimentos do público, as celebridades que sofrem de depressão dão alguns sinais. O primeiro deles é o isolamento, que pode ocorrer de forma sutil, como a ausência nas redes sociais, ou mais intensa, levando ao cancelamento de shows ou aparições públicas. Além disso, o famoso pode se mostrar irritado ou desanimado com as atividades profissionais, sintomas de que ele não está lidando muito bem com a carreira.

Apesar de parecer um problema controlável, muitas vezes fica difícil identificar essas pistas com antecedência. Por trás da fama, influências duvidosas e o abuso de substâncias ilícitas acabam comprometendo a saúde das celebridades, que entram em total desequilíbrio ao tentar se adaptar a esse universo.

A cantora britânica Amy Winehouse, por exemplo, faleceu aos 27 anos por excesso de álcool, ingerido em uma quantidade tóxica para o organismo após um período de abstinência. Nos últimos meses de vida, ela mostrava sinais de que estava totalmente entregue às drogas, surgindo bêbada em shows e até esquecendo a letra de suas músicas. No entanto, Amy nem sempre foi assim.

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Em 2007, no auge de sua carreira, a cantora se casou com Blake Fielder-Civil, um produtor de música que a apresentou para várias drogas. Desde então, ela se envolveu em várias polêmicas, ele chegou a ir preso por roubo e o divórcio do casal, em 2009, foi cheio de reviravoltas e acusações na mídia. Por fim, Amy teve a imagem distorcida, e não conseguiu largar o vício.

O mesmo aconteceu com Chris Cornell, que teve um forte episódio de depressão no passado e passou a utilizar medicamentos ansiolíticos, além de álcool e drogas. No início dos anos 2000, ele passou dois meses em uma clínica de reabilitação, e estava decidido a largar as substâncias e a melhorar o quadro de depressão. 

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Anos depois, ele relatou à revista SPIN que perdoou os próprios erros do passado, pois não tinha como saber que a vida poderia ser diferente. “Eu tive a experiência definitiva de reabilitação do rock’n’roll quando fui para a clínica. O único motivo pelo qual eu tive sorte o suficiente para encontrar a felicidade pela primeira vez na vida foi estar acordado para isso”.

No entanto, apesar do esforço, Cornell terminou abusando novamente dos remédios, o que deve ter aumentado a confusão mental e levado o artista a se matar. Para Fabiane, isso é mais um sintoma de que há algo errado. “O abuso de álcool e drogas é uma forma de anestesiar as emoções que essas pessoas não sabem como lidar. Por isso, é também preciso ficar alerta com o uso indiscriminado dessas substâncias, pode ser um sinal”, afirma Fabiane.

Há uma saída?

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Com tantos famosos sofrendo com a vida pública, é difícil enxergar uma saída ou solução para todos esses problemas. No entanto, tudo depende do acompanhamento que a pessoa recebe, seja de médicos de confiança, da família ou até o apoio dos fãs, caso os sintomas sejam observados com certa antecedência.

“A melhor maneira de tratar um sofrimento deste nível é reconhecer que esses famosos são pessoas normais, antes de serem celebridades. E assim como todos nós, precisam às vezes se afastar de suas atividades e rotinas para poder olhar e cuidar melhor de si”, explica Aline.

Sendo assim, o ideal é buscar um tratamento psicológico, nem que, para isso, a pessoa precise dar um tempo na carreira. “É preciso ter a empatia para ver que os ídolos também passam por problemas emocionais”, conclui Fabiane, “Em alguns casos, é necessário que essa pessoa se afaste da vida pública para cuidar do lado pessoal com mais atenção e mais liberdade de escolha”.

Depressão e ansiedade nos famosos

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