Neil Young, Pedro Luís, Miguel e mais nos lançamentos da semana

por | jul 26, 2016 | Entretenimento

Getty Images

Neil Young: “The Monsanto Years”

Gravadora: Reprise

Aos 69 anos, Neil Young continua mais ativo que nunca. E de forma mais multifacetada que nunca.

Depois do complexo (e ótimo) “Psychedelic Pill” (2012), o cantor canadense não se afastou de uma nova legião de adoradores. Só no ano passado, Young lançou dois discos: “A Letter Home”, gravado de forma caseira num gramofone dos anos 1940, e o duplo “Storytone”, que mostra versões de 10 músicas em arranjos orquestrais e acústicos.

“The Monsanto Years” é uma crítica direta à indústria de alimentos que, de acordo com Young, “é o pôster dos problemas que temos com governos corporativos”.

A pergunta que fica: seria ingenuidade atacar uma indústria gigante de forma direta e incisiva? A utopia é presente na obra de Neil Young desde que cantou, pela primeira vez, “toda vez que penso sobre voltar pra casa é fresco e arejado”, em “Everybody Knows This is Nowhere” (1969). Junto aos filhos de Willie Nelson, ele acredita que as pessoas “querem ouvir falar de amor” e entoa, de forma serena, em “Rules of Change”: “As pessoas precisam ser livres para crescer”.

Admirável não é que Neil Young consiga transcender o debate sobre nós, humanos, em um disco anticorporativista. Tampouco que ainda tenha gás para chacoalhar nossos cérebros com um discurso libertário que, para ele, está a léguas de distância do ufanismo. O que choca é que não temos, atualmente, algum representante firme dos direitos humanos no campo musical. Ao lado de Bruce Springsteen, Neil Young permanece representativo: ainda temos amarras; não enxergá-las só piora a situação.

Miguel: “Wildheart”

Gravadora: RCA/Sony

O cantor de R&B Miguel tem suas referências definidas: Prince, Freddie Mercury e James Brown. Seu terceiro disco, “Wildheart”, joga uma névoa psicodélica na essência vocal que une estes três grandes músicos. Na verdade, o que Miguel pretende é soar mais convincente em seu acalanto musical, como mostrou com audácia na já divulgada “Coffee”, estabelecendo particular intersecção entre sintetizadores e vocais emotivos em contraste a versos sérios.

No entanto, “Wildheart” vai além dos sentimentos. Ele celebra uma das melhores bandas de rap da história ao lado de Kurupt, em “NWA”, como se quisesse agradar a garota que “gosta de andar com um magrelo gangsta”. “What’s Normal Anyway” é uma reflexão sobre a cor de sua pele num contexto patriótico. Já “Face the Sun” combina seu appeal ao de Lenny Kravitz, que também assume as guitarras.

A forma com que Miguel conduz sua voz, porém, pode enganar. Neste disco, ele comentou querer mostrar “raiva, alegria, ira e amor pelas mulheres”. São diferentes sentimentos em erupção, mas que ganharam contexto abrangente dentro do hibridismo musical de “Wildheart”. Sua fama deu largos passos em “Kaleidoscope Dream” (2012) e, sabendo disso, o cantor fez questão de aumentar a estatura de seu alcance musical, sem perder a interessante atmosfera que desenvolveu nestes últimos cinco anos.

https://www.youtube.com/watch?v=2B1Qc5pAw4E Pedro Luís: “Aposto”

Gravadora: Som Livre

Sem A Parede e sem os músicos do Monobloco, o compositor Pedro Luís uniu-se ao percussionista Paulinho Dias em um projeto que envolve o Canal Brasil para um DVD. Ele refaz canções como “Girassol” (que coescreveu para o Cidade Negra) e “De Nós”, que traz participação de Zélia Duncan. O título do disco, segundo o carioca, tem a ideia de desafiar os ouvintes. “Há muitas músicas minhas que as pessoas não sabem que fui eu que compus”, disse.

Este é o caso de “Parte Coração”, que já cantou ao lado de Moska; aqui, ele a registra ao lado de Nina Becker, com arranjos mais calcados no samba. A feminina “Pode Se Animar”, de Bruna Caram, não soa deslocada na voz de Pedro Luís, que ajudou a compô-la. É apenas um dos muitos lados geométricos do artista que costuma encontrar o gênero mais adequado (seja funk, rock ou MPB) para transpor suas ideias.

https://www.youtube.com/watch?v=sI6jVbOSPNU Vince Staples: “Summertime ‘06”

Gravadora: Def Jam

Vince Staples foi pomposo ao estrear com disco duplo, mas há justificativa: já bem conhecido no circuito do hip hop, o jovem californiano de 22 anos ganhou boa projeção ao participar de discos dos membros do coletivo Odd Future (que inclui Tyler the Creator, Frank Ocean, Earl Sweatshirt, entre outros).

20 faixas compõem este novo álbum, que já pode ser encarado como um dos melhores discos de rap do ano. Staples critica a polícia em “Norf Norf”, mostra uma nova perspectiva da chapação em “Dopeman” (com Joey Fatts e Kilo Kish) e se revela niilista em “Jump Off the Roof”: “Odeio quando você mente/Odeio a verdade, também”.

No disco 2, vale destacar “Street Punks”, em que a eloquência de mixtapes anteriores (como “Shyne Coldchain Vol. 1”, de 2011) é atualizada numa estrutura minimalista, para agradar quem curte The Bug.

https://www.youtube.com/watch?v=kVee11Vrve0 Refused: “Freedom”

Gravadora: Refused/Epitaph

“Freedom” é o primeiro álbum do Refused em quase 20 anos e marca um retorno que a própria banda considera ‘triunfal’. A banda sueca de punk-rock já começa arrebentando as estribeiras em “Elektra” e, até “Useless European”, o ouvinte é arremessado a uma horda de riffs. Mas, essa onda de riffs não representa um retorno à base. Depois de voltar aos palcos, em 2012, o grupo parece ter ‘infectado’ seu som com o que tem entrado nas paradas de sucesso com o termo ‘rock pesado’ ao longo destes últimos anos.

Não acredite no vocalista Dennis Lyxzén quando ele canta que “nada mudou” na primeira faixa do álbum. “Françafrique”, “War on the Palaces”, “Destroy the Man”… De alguma forma a agressividade do já clássico “The Shape of Punk to Come” (1998) perdeu-se nesse tempo.