Ivete e Criolo degradam Tim Maia; divas dominam lançamentos

Ivete Sangalo e Criolo: “Viva Tim Maia”

Gravadora: Universal

Com forte patrocínio de uma marca de cosméticos, Ivete Sangalo e Criolo aceitaram a incumbência de interpretar o repertório de Tim Maia. Logo de início, a polêmica: Ed Motta, sobrinho do cantor, chamou o projeto de “coisa podre” antes de se deparar com a fedentina.

O grande sucesso da turnê impeliu a dupla a registrar as releituras em disco. O resultado é certinho demais, adequado demais, limpo demais para um artista que, de correto, não tinha nada.

Os timbres de Criolo e Ivete estão adocicados, erro crasso nas versões de “Primavera (Vai Chuva)” ou na dançante “Réu Confesso”.

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Dá pra dizer que é um acerto não mostrar esforço para soar como Tim Maia – justiça seja feita: eles não iriam conseguir. Este é, também, o grande erro de “Viva Tim Maia”: tratam o tijucano como um ser canônico, sem apresentar convincente perspectiva do soul-funk eternizado pelo músico.

Os arranjos têm qualidade, mas decepcionam: pendem para o quadrado, tal qual uma banda de colegiais que têm que obrigatoriamente apresentar o show que não quer, para tirar a nota que precisa. (Credita-se este trabalho ao talentoso Daniel Ganjaman, que nem de longe exibe o primor musicalmente capaz de extrair.)

Repertório é outra deficiência da parceria: a opção pelas canções mais populares, como “Chocolate”, “Me Dê Motivo”, “Azul da Cor do Mar”, entre outras, soa como oportunismo para atingir as grandes massas, porque, musicalmente, nada acrescenta ao impacto de cada uma, quando lançadas pelo Síndico.

De todas as funções que releituras podem suscitar, “Viva Tim Maia” busca a mais enfadonha: celebrar o clássico em prol do marketing. Eis o tiro na culatra.

https://www.youtube.com/watch?v=YGuhz-JgGLo Ana Cañas: “Tô na Vida”

Gravadora: Slap

Ana Cañas recria canções típicas para integrar trilhas de novela da Globo. Se antes ela não compunha, em seu 5º disco, “Tô na Vida”, mostra que já sabe escrever de forma que a mensagem chegue simplificada ao ouvinte. “Hoje Nunca Mais” e “Um Dois Um Só” continuam a mostrar o lado sentimental, mas é no rock que a paulistana de 34 anos encontrou o melhor caminho para encontrar a unidade que tanto procurou ao compor em quartos de hotéis. Em entrevista à Revista TPM, contou: “deixei de falar com muita gente porque eu queria resolver essa questão”. Com apoio do guitarrista Lúcio Maia (Nação Zumbi), canções como “O Som do Osso” e “Coisa Deus” mostram a cantora dividindo seus vocais com riffs, em busca de um novo passeio estético. Cai bem, mas ainda há uma jornada a percorrer para que Ana Cañas encontre a idoneidade que busca.

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https://www.youtube.com/watch?v=wo5-MALTY8U Joss Stone: “Water For Your Soul”

Gravadora: Stone’d

Joss Stone é beleza, paz e amor. Ao longo de seis discos, sua denominação de ‘diva’ andou lado a lado com seu contagiante carisma. Ela cativou, também, outro tipo de público: os regueiros. Isso se potencializa com a coprodução de Damian Marley, que divide vocais em alguns momentos – como “Wake Up”. Em ‘Sensimilla”, Joss utiliza a linguagem patois e menciona a maconha – algo mais perceptível em “Harry’s Symphony”. Não há nada de novo ou desafiador em “Water For Your Soul”: entre alguns deslizes e clichês, Joss mantém a boa reputação (e produção).

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https://www.youtube.com/watch?v=Te50aSDIByM Natalie Imbruglia: “Male”

Gravadora: Sony

Natalie Imbruglia parece nome de novata, mas desde 1997 essa australiana mostra seu pop-alternativo com desenvoltura. Seu grande disco de sucesso, “Left of The Middle”, vendeu mais de 7 milhões de cópias pelo mundo, impulsionado pelos hits “Torn” e “Wishing I Was There”. Como o próprio título sugere, em “Male” Natalie relê canções masculinas. Já inicia melhorando “Instant Crush”, do Daft Punk (com vocais de Julian Casablancas, dos Strokes). “Cannonball”, de Damien Rice, é tocante – assim como “Only Love Can Break Your Heart” ( Neil Young), ganha tonalidade minimalista, fortalecendo o acalanto de sua voz. O pós-punk de “Friday, I’m in Love” ( The Cure) é levado pelas notas de violão, até ganhar uma levada country-folk empolgante, no melhor estilo Alisson Krauss.

https://www.youtube.com/watch?v=nkBxRHvdvXM Lianne La Havas: “Blood”

Gravadora: Warner

Elementos do pop final dos anos 1990 e neosoul estão entremeados na obra de Lianne La Havas. Depois de viajar à Jamaica para “descobrir” suas “raízes”, dá pra dizer que quase nada foi acrescentado. Ou seja, La Havas desenvolve o mesmo ponto de partida do anterior “Is Your Love Big Enough?” (2012). A decepção é que letras como “What You Don’t Do” e “Wonderful” pouco revelam sobre a personalidade musical da jovem britânica. Talvez a adição de renomados produtores como Paul Epworth (Adele) e Stephen MgGregor (músico de dancehall) inibam ainda mais uma artista que deve ter mais a dizer que o grudento single “Unstoppable”. Mesmo assim, vale procurar as entrelinhas na curiosa construção melódica do disco.