
Falar que um disco ‘vazou’ é uma expressão comum há mais de uma década. Havia certa culpa nessa afirmação: podia significar que o usuário era condizente com o download ilegal de músicas do seu artista preferido.
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Por conta dessa prática, a indústria musical teve que se reconfigurar – assim como os próprios músicos. Bandas de grande público romperam com o padrão das gravadoras e passaram a ter contato direto com o público: o Radiohead, por exemplo, criou em 2007 o método ‘pague o quanto quiser’ quando lançou “In Rainbows”. Outros artistas, como Frank Ocean, Angel Haze e Azealia Banks, ficaram de saco cheio com a enrolação das gravadoras e vazaram por conta própria seus discos.
Nos últimos 15 anos diversos artistas viram seus discos caírem na rede antes da data oficial de lançamento. Alguns tiveram prejuízo; outros, provavelmente se beneficiaram, apesar de não haver nenhuma pesquisa concreta que relacione o impacto dos vazamentos de disco na internet com as vendas.
Confira 6 discos de grandes artistas que, apesar dos danos do vazamento ilegal, conseguiram obter boas vendas: Eminem: “The Eminem Show” (2002)
Vazado 25 dias antes da data oficial, o lançamento de “The Eminem Show” teve que ser antecipado, para “minimizar as perdas de vendas com as cópias em bootleg”. Para evitar essa prática, a gravadora Universal tinha criado uma forma praticamente blindada, para impedir que funcionários desviassem a linha de produção de CDs quando eles fossem às fábricas. Dell Glover, funcionário da empresa ligado a uma rede internacional de pirataria, furou esse esquema ao perceber que não havia medidas rígidas de segurança nas muitas trocas de portas que separavam os estúdios das fábricas. Por ser um dos álbuns mais aguardados, o impacto do vazamento de “The Eminem Show” decepcionou – e muito – o então presidente da gravadora Universal, Jim Urie: “[O selo] Interscope fez vista grossa para que essa versão fosse lançada seguramente. Fizeram medidas muito além do que qualquer selo já tivesse feito, e é uma pena que ela tenha sido contornada”. 50 Cent: “Get Rich Or Die Tryin’” (2003)
Um dos principais nomes ligados à pirataria de discos, Dell Glover disponibilizou o álbum “Get Rich Or Die Tryin’”, de 50Cent, em janeiro de 2003, um mês antes da data oficial de lançamento. Isso não atrapalhou a vendagem do álbum: só nos Estados Unidos, o terceiro disco do rapper atingiu mais de 8 milhões de cópias. Na época, 50Cent disse que ganhou tanto dinheiro com o disco, que nem saberia como gastá-lo. U2: “How To Dismantle An Atomic Bomb” (2004)
O U2 também foi alvo do Rabid Neurosis (RNS), espécie de ‘máfia’ que ‘organizava’ vazamentos de discos para soltá-los na web antes de seu lançamento oficial. O volume de downloads ilegais das faixas de “How To Dismantle An Atomic Bomb” foi expressivo a ponto de fazer a banda antecipar o lançamento digital via iTunes. Na época, Bono disse: “Bootlegs são legais quando você faz alguns para seus amigos, mas quando se fala em grandes negócios, crime mesmo, não acho que o usuário gostaria de fazer parte disso. Estamos lidando com pessoas sujas, e não acho que você deveria pagar o feriado de verão desses caras em Ibiza”. Guns N’ Roses: “Chinese Democracy” (2008)
Policiais do FBI bateram nas portas de Kevin Cogill. Ele foi preso por colocar, sem autorização, faixas do disco “Chinese Democracy”, do Guns N’ Roses, em seu blog, Antiquiet. Isso fez com que os acessos de sua página multiplicassem. Em contrapartida, foi condenado a cumprir três anos de prisão. Depois de negociar, conseguiu reduzir a pena para dois meses em regime domiciliar. Beyoncé: “Beyoncé” (2013)
Lançado surpreendentemente no final de 2013, o quinto álbum de estúdio de Beyoncé foi um sucesso pela web: vendeu quase 1 milhão de cópias digitais na primeira semana. No entanto, segundo análise do “Musicmetric”, só nos 10 primeiros dias em que foi lançado o disco causou um prejuízo de mais de US$ 4 milhões à cantora. Anteriormente, em 2012, ela já havia processado um internauta sueco por ter vazado o disco “4” (2011). Madonna: “Rebel Heart” (2015)
A rainha do pop não escondeu seu desatino quando descobriu que, meses antes do lançamento oficial, o álbum “Rebel Heart” estava disponível. Ela pediu para que os fãs não ouvissem, e isso gerou reações positivas nas redes sociais. A cantora disse que não entraria com ação judicial – no entanto, o hacker israelense responsável pelo vazamento foi condenado a 14 anos de prisão.