Documentário faz 10 revelações sobre Nina Simone

Lançado com exclusividade para o Netflix, o documentário “What Happened, Miss Simone?” mostra a importância da obra de Nina Simone sobre dois panoramas.

( Atenção: este texto contém ‘spoilers’ do filme.)

Primeiramente, há o aspecto emocional diante de frustrações pessoais de Nina, que vão de sua conturbada relação com o ex-esposo e empresário Andrew Stroud à dura sobrevivência na Europa nos anos 1970. E, também, o aspecto musical, que analisa a transição do ensinamento de piano clássico para a interpretação de standards de jazz em bares remotos.

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No filme, dirigido por Liz Garbus, essas contravenções geraram um impacto que marcaria a carreira e a influência de Nina Simone (cujo nome de batismo era Eunice Waymon) para sempre.

Elencamos, a seguir, algumas informações reveladoras sobre uma das cantoras de jazz mais relevantes do século XX:

#1 Como aprendeu a tocar piano
A pequena Eunice Waymon aprendeu a tocar piano aos 4 anos, na igreja. A patroa de sua mãe decidiu investir na carreira dela, que passou a ter aulas com Muriel Mazzanovich pelo menos cinco horas por dia.

#2 Recusada na escola Curtis
Antes de se tornar mundialmente conhecida com interpretação de standards de jazz, como “I Loves You, Porgy” e “Don’t Smoke in Bed”, Eunice se esforçou para se tornar a primeira negra a apresentar um concerto clássico de piano. Ela estudou Brahms, Liszt e Bach desde muito jovem e, depois de estudar na consagrada escola Juilliard num curso de férias, tentou entrar para a seleta Curtis Institute of Music. No entanto, ela foi recusada, por ser negra. (Anos depois, o instituto deu título honorário à cantora, por sua contribuição artística.)

#3 Dos bares à carreira de sucesso
Sem dinheiro, Eunice passou a tocar em pequenos bares, ganhando por volta de US$ 300 por noite. Eunice passou a adotar o nome Nina Simone porque não queria que sua mãe soubesse de seu ‘fracasso’. Por conta das exigências dos patrões, que queriam que ela cantasse, interpretou standards de sucesso dos anos 1950. Alguns deles, inclusive, tornaram-se marcas registradas de sua carreira, como “I Loves You, Porgy” (de Ira e George Gershwin) e “Love Me or Leave Me”, que fez bastante sucesso na voz de Billie Holiday.

#4 Relação com Andrew Stroud
Apesar do relativo sucesso comercial nos Estados Unidos, a carreira de Nina Simone deu grande salto a partir do momento em que casou com Andrew Stroud, que se tornou seu empresário. Diversas vezes, no documentário, Nina reclama estar ‘cansada’, alegando que Stroud só quer que ela ‘trabalhe e trabalhe’.

#5 Ascensão comercial – e queda das relações familiares
Já no auge do sucesso – principalmente com as ótimas vendas do disco “I Put a Spell On You”, de 1965 – Nina Simone teve relações familiares conturbadas. Após dar a luz à sua única filha, Lisa Simone Kelly, já morando numa grande casa em Mount Vernon, as coisas se complicaram ainda mais. Nina vivia às turras com o marido, prejudicando a criação de Lisa.

#6 Envolvimento na luta pelos direitos civis
A carreira de Nina Simone teve uma reviravolta a partir do momento que incorporou o discurso ativista do movimento pela luta dos direitos civis, ao lado de Martin Luther King Jr., Malcolm X, Rosa Parks e outras lideranças. Canções como “To Be Young, Gifted and Black”, “Backlash Blues” e, principalmente, “Mississipi Goddam” endossaram a necessidade de consciência coletiva ante uma América que se mostrava cada vez mais racista. Isso comprometeu sua carreira artística, afinal, os produtores passaram a evitá-la, por seu discurso beligerante (em um momento do documentário, Nina conclama a luta armada ao recitar poema de David Nelson, do movimento “The Last Poets”). Essa busca de Nina, inclusive, a levou a afastar-se cada vez mais de Stroud, que preferia se esquivar das conturbações civis.

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#7 Refúgio na Libéria
A morte de líderes como Malcolm X, Martin Luther King Jr., Fred Hampton (dos Panteras Negras), entre outros, chocou Nina Simone. Por isso, ela decidiu ir à Libéria, pois acreditava que o “sonho americano acabou” com o desinteresse cada vez maior da sociedade pela luta dos direitos civis, nos anos 1970. Depois, Nina foi para a Europa e passou por grandes dificuldades até se reerguer novamente.

#8 Violência familiar
Se a convivência com a filha Lisa não era boa quando ainda estava com Stroud, piorou quando Nina decidiu trazê-la para a Libéria. Em “What Happened, Miss Simone?”, Lisa diz ter apanhado muito da mãe, sem entender o porquê. Por conta disso, ela quase se matou e decidiu voltar a morar com o pai. Anos depois, a cantora foi diagnosticada como ‘bipolar’, o que justificava suas ações súbitas não só nos palcos, como nas relações familiares.

#9 Dificuldades na Europa
Pouco se sabe sobre as reais dificuldades de Nina Simone na Europa, exceto pelo fato que morava em um apartamento pequeno e fétido e pelas dificuldades em fazer shows. Além disso, ela permanecia frustrada por não conseguir se desvencilhar de sua carreira como cantora de jazz e soul music, para focar em seu desenvolvimento como instrumentista clássica. De qualquer forma, ela conseguiu se reerguer, tanto que aparece tocando um gigante piano de cauda num festival europeu.

#10 Morreu aos 70
“What Happened, Miss Simone?” não acompanha os eventos que anteciparam sua morte, mas é sabido que o câncer de mama, que a matou, já havia sido identificado anos antes. Ela já se medicava bastante na França, onde morava, também por conta da bipolaridade. Morreu aos 70 anos, em 2003.

https://www.youtube.com/watch?v=mH5ZE3N8cxU