Atriz tem perfil bombardeado por defender aborto. Ataques a chamam até de hipócrita

A atriz Bruna Linzmeyer, atualmente no ar como a funkeira Belisa na novela “A Regra do Jogo” vem sendo alvo de críticas em suas redes sociais desde que participou do vídeo “Meu corpo, minhas regras” que, entre outras questões, defende o direito ao aborto. Entre as centenas de comentários que condenam sua posição, muitos chegam a ser ofensivos. Entenda o caso a seguir.

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Polêmica sobre aborto 

Recentemente, a atriz Bruna Linzmeyer participou de um vídeo defendendo o aborto. Ele era uma resposta às críticas ao filme “Olmo e a gaivota”, que levanta a questão do abordo na trama e foi alvo de agressões verbais no Facebook. Muitos comentários violentos foram feitos depois do discurso da diretora, Petra Costa, ao receber o prêmio de Melhor Documentário do Júri Oficial do Festival do Rio, transcrito abaixo:

“Eu queria dedicar esse prêmio à minha mãe e às mulheres. E que em breve eu espero que no Brasil toda a mulher tenha soberania total sobre o próprio corpo. Seja pra rejeitar uma gravidez, interromper com o aborto que já é legal há mais de 40 anos na França, nos Estados Unidos, em Cuba…Seja pra mergulhar nela como é no caso do nosso filme e ter todos os direitos pra fazer isso da melhor forma. Espero também que nenhuma mulher brasileira sofra machismo verbal ou físico, desde a presidenta, às cineastas, às atrizes, às domésticas…às mulheres!”

Vídeo sobre aborto 

O vídeo, intitulado “Meu corpo, Minhas regras”, conta com a participação de outros artistas, como Bárbara Paz, Julia Lemmertz, Alexandre Borges, e fala sobre a concepção, a constituição da maternidade, o papel da mulher na sociedade e a questão do aborto.

Comentários ofensivos à Bruna Linzmeyer

Por trazer à tona a polêmica questão do aborto, a atriz passou a receber ofensas, em suas redes sociais, de pessoas com opiniões contrárias à dela. “Abortista”, “Apoia o aborto. Uma pena não ter sido abortada antes” e mais comentários ofensivos passaram a aparecer constantemente nos posts da atriz.

Também foram feitos ataques no Instagram de Bruna:

Aborto no Brasil 

A polêmica vem à tona em um momento em que o aborto é intensamente discutido no país e divide opiniões em praticamente todos os lugares, incluindo o Congresso.

Atualmente, o aborto é considerado crime se praticado no território brasileiro, exceto em casos de estupro, risco de morte materno e anencefalia, que ocorre quando o encéfalo do feto (que inclui ponte, cerebelo, bulbo e cérebro) não se desenvolve adequadamente. Em países como a Inglaterra e a França, por exemplo, o aborto é legal e considerado um direito da mulher em caso de gravidez indesejada.

Nos casos de abuso sexual, a mulher é acolhida por médicos, enfermeiros, psicólogos e assistentes sociais e passa por uma triagem, onde é deliberado se ela poderá ou não fazer o aborto de acordo com o tempo de gestação.

Mas um novo projeto de lei pretende mudar esse cenário. Com autoria do deputado Eduardo Cunha, a PL 5.069, de 2013, indica que a vítima deve relatar o caso às autoridades policiais para que possa apresentar provas do crime e passar por exame de corpo de delito antes de fazer o aborto.

Milhares de mulheres saíram às ruas contra o projeto de lei e algumas instituições posicionaram-se radicalmente contra a PL. Uma delas, a ONG Artemis, denunciou Eduardo Cunha, o governo Brasileiro e outros deputados de grave violação aos direitos humanos das mulheres à Organização dos Estados Americanos, órgão internacional de defesa dos direitos humanos.

Para a ginecologista Christiane Curci Regis, a ineficiência do sistema pode prejudicar a mulher que engravidou após um estupro. “A lei pode parecer perfeita porque estaríamos registrando denúncias e investigando criminosos. Mas, na realidade, é diferente porque não há estrutura policial para atender de forma satisfatórias esses casos”, comenta. Entre as dificuldades encontradas, a ginecologista indica a falta de delegacias da mulher para atender todo o país, o despreparo dos profissionais para acolher as vítimas e a demora para a realização do exame no Instituto Médico Legal (IML).

Já para a ginecologista Ana Luíza Antunes Faria, a mulher vítima de estupro busca ajuda sempre em estado de muita fragilidade e, por isso, deve ser atendida mesmo sem registro policial. “A mulher vítima de violência sexual chega traumatizada, com medo, se sentindo suja e inadequada, com vergonha e se colocando como culpada. A gente acredita que é um crime que deveria, sim, ser denunciado, mas entende que a parte médica não pode ser vinculada à denúncia porque uma coisa não exclui a outra”, explica.