Daniella Perez e Raul Gazolla estavam casados quando a atriz foi assassinada há 33 anos
Na última segunda-feira (3), Raul Gazolla compartilhou uma foto ao lado de Daniella Perez. O registro é de 1990, ano em que o casal de artistas se casou. Um longo texto relembrou a época e a atriz, que foi assassinada dois anos após a foto.
Daniella Perez foi assassinada há quase 33 anos
Raul Gazolla postou a foto e texto compartilhados pela Turma do Gallery, página nas redes sociais que resgata personagens da casa noturna que reunia alta sociedade, políticos, celebridades e aspirantes ao estrelato.
“A noite caía sobre um delicioso Rio como quem se deita sobre um corpo amado – lenta, macia, íntima. Era a inauguração de uma boate em um Rio delicioso, febril de encantos, em 1990. Neruda dizia que os olhos dos amantes não apenas olham — eles gritam, ardem, anunciam ao mundo a febre do amor”, dizia a legenda feita pela página.
Raul e Daniella ficaram casados de 1990 a 1992, ano que a atriz foi assassinada. O ator nunca deixou de falar sobre a amada e sobre o crime que tirou a vida dela.
“Raul Gazolla e Daniella Perez: incendiavam o espaço com a linguagem muda dos corpos apaixonados.
Na imagem, os dois – lindos, jovens, eternos – Há algo de sublime e de presságio ali… como se a vida, em sua pressa cruel, quisesse viver tudo de uma vez só”, continuou a legenda.
Aos 22 anos, Daniella foi assassinada pelo colega de trabalho Guilherme de Pádua e Paula Nogueira Thomaz, esposa do ator na época. Os assassinos mataram a atriz com 18 facadas no dia 28 de dezembro de 1992, no Rio de Janeiro.
“Pra mim, o assassinato de Daniella Perez foi mais que um crime foi um eclipse ontológico. Uma tentativa bárbara de extinguir a fulgência de uma jovem mulher que ousava existir em estado de arte, cuja presença iluminava com uma intensidade intolerável aos olhos de um narcisismo ferido e tacanho. Daniella era aurora – dançava entre câmeras e devaneios, com a inocência trágica de quem desconhece o ódio ancestral que o patriarcado ainda nutre pelas que se erguem sem pedir licença. Seu algoz, um ator menor, não matou por paixão, mas por ressentimento — o afeto mais mesquinho da alma humana. Ceifou não apenas uma vida, mas uma simbologia: a da mulher emancipada, desejante, solar. Foi o gesto final de um sujeito incapaz de suportar o protagonismo feminino, de lidar com a alteridade de uma mulher que não se curvava à lógica da posse”, diz a legenda da foto postada por Raul.
Na época do assassinato, Raul tinha 37 anos e estava casado com a filha de Glória Perez há dois anos.
“Sob um olhar freudiano, foi a pulsão de morte travestida de controle. A projeção violenta de uma masculinidade falida que tenta, na destruição do outro, remediar sua própria insignificância. Daniella foi vítima de um feminicídio simbólico antes mesmo da linguagem jurídica nomeá-lo como tal — um crime que desnuda, com brutalidade cirúrgica, as engrenagens misóginas ainda operantes na estrutura social. Mas ela resiste, mitificada”, continua na legenda.
“Sua ausência tornou-se presença lapidar. Ecoa como um verso interrompido por mãos indignas, mas jamais silenciado. Sua memória é hoje um farol — ético, poético e político. Lembra-nos, com veemência, que enquanto o brilho feminino for interpretado como afronta, o mundo seguirá sendo um palco perigoso para aquelas que ousam viver com intensidade”, concluiu.