Quando um filme começa com a frase “baseado em fatos reais”, o peso do enredo se multiplica. Ainda mais se envolve polêmicas e temas fortes. Um dos mais recentes que contam uma história real é “Spotlight – Segredos Revelados”, que concorre ao Oscar de Melhor Filme em 2016.
O filme mostra a investigação jornalística de casos de pedofilia na Igreja Católica, feita pela equipe Spotlight, do jornal The Boston Globe. O episódio aconteceu em 2001, quando o editor Marty Baron decidiu aprofundar o tema abordado em uma coluna do jornal, com a ajuda do grupo de investigação.
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Tudo começou com o caso do Padre John Geoghan, que o Globe já havia publicado meses antes. A primeira denúncia ocorreu em 1996, quando uma mulher o acusou de abusar de seus três filhos. A partir disso, vários relatos vieram à tona, e o Padre Geoghan recebeu cerca de 70 acusações diferentes na época.
Em 1997, o Globe soltou a primeira coluna, de Eileen McNamara. A colunista publicou alguns textos sobre o assunto, conforme as denúncias aumentavam. Ela também questionou a conduta do arcebispo da cidade, Cardeal Bernard Law, que apenas transferia Geoghan de uma igreja para outra, deixando-o continuar com o exercício religioso. Ele fez um pronunciamento oficial negando as acusações, após a publicação no Globe.

Outro padre citado nos textos de Eileen foi David Holley, o mesmo que abusou de Phil Saviano na infância, outro personagem importante da história. Saviano passou a vida tentando esquecer o trauma. Porém, ao ver o nome de seu abusador nas manchetes do Globe, ele viu que não era o único a sofrer nas mãos de Holley e decidiu reunir evidências para denunciar o padre. Ele não tinha nada a perder, pois estava com Aids e achava que morreria logo, portanto ignorou as tentativas de acordos financeiros por parte da Igreja. Suas tentativas foram severamente ignoradas pela mídia, até Spotlight aceitar conduzir a investigação.
Quando Marty Baron entrou no jornal, ele tomou a iniciativa de prosseguir com o caso. Transferências contínuas de padres justificadas por licença médica chamaram a atenção dos repórteres, liderados por Walter Robinson, que começaram as entrevistas pelo próprio Saviano e pelo advogado Mitchell Garabedian, que defendia vítimas de abuso.

A partir daí, a investigação tomou proporções absurdas. Os 20 casos estimados no início se transformaram em 250, por meio de entrevistas com as vítimas e com advogados envolvidos. A cena perturbadora do filme, em que um padre confessa friamente os abusos para a repórter Sacha Pfeiffer, realmente aconteceu. Cada descoberta dos repórteres afirmava ainda mais a desordem psicológica dos autores dos abusos.

Por fim, o Globe publicou a reportagem em Janeiro de 2002. A repercussão foi imediata, e eles receberam mais de trezentas ligações reportando outros casos, após a publicação. O Spotlight ganhou o prêmio Pulitzer de jornalismo no ano seguinte, e os repórteres originais acompanharam as gravações do filme de perto. A equipe original compareceu aos eventos de divulgação do filme, e inclusive elogiou a veracidade com que a história foi contada, popularizando um dos casos mais polêmicos da Igreja Católica.