Uma pesquisa afirmou que os anos 1980 foram os mais repetitivos da história, mas analisando novamente o que ocorreu há exatos 30 anos, paira certa injustiça.
Leia também: 15 discos de 1995 que você TEM que ouvir e reouvir
Tudo bem que sintetizadores tomaram o protagonismo das guitarras e o surgimento do canal MTV estabeleceu uma nova dinâmica entre grupos musicais e público a partir dos videoclipes, mas 1985 produziu clássicos que continuam sendo redescobertos ainda hoje: dos reclusos Robert Wyatt e Kate Bush à febre new-wave britânica de New Order e Tears For Fears, passando pela ascensão do rap de Run-D.MC., a renovação do punk norte-americano de Hüsker Dü e The Replacements até a revalorização dos clássicos de jazz dos denominados Young Lions, dá pra dizer abertamente que aquele foi um ano valioso.
Leia também: 15 discos de 2005 que você TEM que ouvir e reouvir
Relembre 15 discos de 1985 que você precisa ouvir e reouvir (em ordem alfabética): #1 Dire Straits: “Brothers in Arms”
Gravadora: Warner Bros.
Um dos primeiros discos a ter gravação, mixagem e produção digitais, o quinto disco do Dire Straits mostrou o vocalista e guitarrista Mark Knopfler no auge de sua competência como compositor. O single “Brothers in Arms”, escrito com Sting, e “Money For Nothing” exibiram a versatilidade de uma banda que tinha mais, muito mais a mostrar que “Sultants of Swing”. A produção do disco, assinada por Knopfler e Neil Dorfsman, representou alto grau de sofisticação na época. #2 Hüsker Dü: “New Day Rising”
Gravadora: SST
Um ano após o lançamento do impressionante disco duplo “Zen Arcade” (1984), Bob Mould e Grant Hart juntaram novamente as forças com o produtor ‘Spot’ num álbum totalmente sujo, em que os duetos vocais estabeleceram de vez a dinâmica escatológica de uma das grandes bandas de rock dos anos 1980. “I Apologize”, “Celebrated Summer” e “Terms of Psychic Warfare” são carregadas de uma barulheira instigante, que fazem deste um dos registros mais catárticos da banda de Minnesota (EUA). #3 Kate Bush: “The Hounds of Love”
Gravadora: EMI
A britânica Kate Bush tinha tudo para ser a rainha pop de seu país, mas não quis chegar lá de maneira convencional. Em “The Hounds of Love”, ela controla todo o processo de materialização do disco, inserindo sintetizadores estranhos e guitarras flamejantes – assim como as referências, que assimilam até o filme de terror “A Noite do Demônio” (1957). Canções como “The Big Sky” e “Waking the Witch” mostraram uma versatilidade rara que certamente mexeram bastante com Lady Gaga. #4 New Order: “Low-Life”
Gravadora: Factory
Eis o álbum responsável por trazer a ‘claridade’ ao New Order. A transição do pós-punk, herança do Joy Division, para a new-wave foi um passo cautelosamente bem dado pela banda de Peter Hook e Bernard Sumner. Em “Low Life” a eletrônica, para o New Order, pode ser oriunda tanto do industrial (“Love Vigilantes”), como da dance-music (“Perfect Kiss”). “Elegia”, por si, tinha um pé forte no progressivo. Com o passar dos anos, o New Order lançou bons discos, mas nenhum soou como um recomeçar tão convincente quanto este. #5 Rites of Spring: “Rites of Spring”
Gravadora: Dischord
Disco punk sem frescuras. Foi onde o influente Ian Mackaye, que produziu o disco, conheceu o guitarrista Guy Picciotto e o baterista Brendan Canty – com quem formou o Fugazi. Fãs de Dead Kennedys e Minor Threat não têm do que reclamar com a horda de riffs e vocais que não negam a exaustão de tanta energia despendida. #6 Robert Wyatt: “Old Rottenthat”
Gravadora: Rough Trade
Robert Wyatt teve uma prolífica e efêmera carreira como baterista do The Soft Machine, interrompida por um acidente que o deixou paraplégico, e uma sequência de bons discos solo, com destaque para “Rock Bottom” (1974). O álbum “Old Rottenhat” permaneceu obscuro por décadas. Era um registro lo-fi, com colheres, kit barato de bateria e um teclado Casio que mal funcionava, tocado por Angelo Badalamenti. Mas a subjetividade política de canções como “Age of Self” e “The United States of Amnesia” ajudaram a criar o mito Wyatt, que tem sido cada vez mais cultuado com o passar dos anos. #7 Run-D.M.C.: “King of Rock”
Gravadora: Profile/Arista
Antes dos Beastie Boys, existia o Run-D.M.C. Logo no segundo disco, clamaram o título de ‘reis do rock’, algo que tem lá sua prerrogativa se analisarmos o frescor da música. Num momento em que o rock ficava cada vez mais modorrento, o hip hop aos poucos foi tomando o espaço da música da juventude. E, se tem rock, claro que teria que haver guitarras: a faixa-título oferece solos flamejantes pra roqueiro nenhum botar defeito – cortesia de Eddie Martinez. #8 Sonic Youth: “Bad Moon Rising”
Gravadora: Goofin’
Antes de se tornar um dos maiores nomes do rock alternativo, o Sonic Youth esteve ligado à cena no-wave, em que barulheira de guitarras, letras niilistas e sonoridade bem arrojada formaram um incompreendido manifesto que ainda hoje ressoa na música experimental. “Bad Moon Rising” tem letras de teor satânico. Os guitarristas Lee Ranaldo e Thurston Moore ainda estavam lapidando a (in)fluência de seus instrumentos – tanto que faixas como “Society is a Hole” e “I’m Insane” parecem extraídas de uma oficina de testes de automóveis. #9 Talking Heads: “Little Creatures”
Gravadora: Warner Bros./Sire
Quando queria, David Byrne sabia ser pop. E foi exatamente isso que ele conseguiu com “Little Creatures”. Apesar de ter como pano de fundo a música country norte-americana, as guitarras repetitivas de “And She Was” e a pompa meio gospel de “Road To Nowhere” deram ao Talking Heads uma perspectiva mais estranhamente acessível – mesmo se comparado a “Talking Heads’ 77” (1977) ou ao elogiado “Remain in Light” (1980). #10 Tears For Fears: “Songs From the Big Chair”
Gravadora: Phonogram/Mercury
Um dos grandes propulsores da chamada ‘Segunda Invasão Britânica’, o Tears For Fears tornou-se uma das bandas mais bem-sucedidas da new-wave principalmente a partir deste, que foi o segundo disco. Com os singles “Mothers Talk” e “Shout”, a banda se antecipou ao estrelato, que não tardaria a vir. Mas foi com o vídeo de “Everybody Wants to Rule the World” que a banda, impulsionada pela MTV, tornou-se mundialmente conhecida. Justo, já que este é o melhor disco feito pelo Tears For Fears. #11 The Cure: “Head On the Door”
Gravadora: Fiction/Elektra
Nada como o retorno do baixista Simon Gallup e a consagração de Porl Thompson (guitarra e teclados) para que o The Cure voltasse renovado em seu sexto disco. “Head On the Door” começa bem goth-pop com “In Between Days”, antecipando de cara o que seria explorado no disco seguinte. Este foi o trabalho que alçou os britânicos ao estrelato, apesar de ter sido gerado a partir de um pesadelo do vocalista Robert Smith. #12 The Jesus & Mary Chain: “Psychocandy”
Gravadora: Blanco y Negro
A convergência entre as guitarras cristalinas – e ao mesmo tempo barulhentas – com vocais estranhamente melancólicos dos irmãos Jim e William Reid instituíram não apenas um dos maiores clássicos dos anos 1980, como todo um movimento. “Psychocandy” é o parto do shoegaze, e se você não está nem aí pra essa coisa de ‘estética’, então maravilhe-se com canções como “Just Like Honey” ou caia no pogo com “In a Hole”. #13 The Replacements: “Tim” (1985)
Gravadora: Sire
A tarefa não era fácil: como superar em qualidade o grandioso “Let It Be” (1984) principalmente após assinar com uma grande gravadora? O vocalista e principal compositor Paul Westerberg enveredou numa pegada mais pop, assumindo referências de Roy Orbison e Big Star. “Hold My Life” e “Bastards of Young” provaram que a banda não precisaria se despistar de sua criatividade, antes mais ligada ao punk. Assim como o The Clash fez em 1979, com “London Calling”, “Tim” representa a abertura estilística de uma banda que sabia muito bem o que estava fazendo e onde queria chegar. #14 Tom Waits: “Rain Dogs”
Gravadora: Island
A voz de Tom Waits foi se transmutando ao longo dos anos. De “Closing Time” (1973) a “Swordfishtrombones” (1983), o crooner de boteco sujo foi se ajeitando a sonoridades cada vez mais estranhas e obscuras. “Rain Dogs” é um de seus discos mais conhecidos, talvez por canções como “Hang Down Your Head” e “Jockey Full of Bourbon”. Mas é, inegavelmente, uma de suas obras mais curiosas, pois adentra sonoridades experimentais que poucos tiveram a curiosidade de explorar, mesmo após três décadas de seu lançamento. #15 Wynton Marsalis: “Black Codes (From the Underground)”
Gravadora: Columbia
Ao lado do irmão saxofonista Branford Marsalis, o trompetista Wynton Marsalis foi a linha de frente de um movimento no jazz chamado Young Lions. Para eles, recobrar a tradição era necessário, e ainda que releituras de Dizzy Gillespie ou Count Basie fossem parte do repertório, em discos próprios eles se mostraram competentes virtuosos. Até hoje, “Black Codes (From the Underground)” permanece como um dos melhores registros de Wynton: comandando como um gigante, aos poucos ele construiu sua própria ‘instituição musical’, destacando-se como um dos melhores e mais bem-sucedidos jazzistas modernos.