“A existência não tem nenhum propósito, ninguém pertence a lugar nenhum, todo mundo vai morrer. Agora, vem assistir televisão!”. Esse é só um dos argumentos que a série “Rick & Morty” joga para o espectador em um desenho que, apesar dos traços cartunescos, do ar fantástico, supercolorido e até mesmo do tom bem-humorado, tem quase nada de feliz. Exibido originalmente no Adult Swim, da Cartoon Network, em 2013, e na Netflix atualmente, as aventuras do cientista Rick e de seu neto Morty estão longe de ser “programa de criança”.
Rick & Morty na Netflix
Criado por Justin Roiland (que também dubla os protagonistas), o desenho nasceu como paródia do filme “De Volta Para o Futuro”, inspirado em uma animação chamada “Doc and Mharti”. E Roiland a criou justamente para provocar: com o nome original de “De Volta Para o Futuro: O Novo Desenho Oficial da Universal Studios Estrelando Os Novos Doutor Brown e Marty Mcfly” (em tradução livre), o tom ofensivo queria mesmo cutucar o estúdio e, até hoje, “guia” o roteiro do programa.

No entanto, a “zoeira” acabou virando um projeto muito maior e mais sério, ganhou tramas mais originais e personagens bem desenvolvidos, apesar de ainda se se basear na ideia do cientista maluco e do adolescente de “De Volta Para o Futuro”. Aclamada pelo público e pela crítica especializada – a série tem nota 85 no MetaScore – “Rick & Morty” deve agradar quem gosta de desenhos como ”Futurama”, “Os Simpsons” ou até mesmo da nova geração da Cartoon – “Steven Universo”, “Hora de Aventura”, entre outros.
Tema e questões
Inspirado em “De Volta Para o Futuro”, o desenho mistura elementos do mundo “real” com as viagens da dupla protagonista por outras dimensões, universos paralelos, fendas temporais e realidades simuladas, habitada por criaturas bizarras e cheia de cenários surreais. Mas, apesar do mundo expandido a que têm acesso, Rick e Morty conseguem reduzir a significância da vida a um grau mínimo – e assustador.

Questionando a lógica do funcionamento de absolutamente tudo, em especial das relações humanas, o cientista Rick ignora qualquer moral ou contrato social e coloca o neto Morty em situações absurdas, grotescas e completamente inapropriadas para crianças.
Por outro lado, o ceticismo em relação a qualquer significado universal também faz surgir uma filosofia de que o mais importante é o “aqui e agora”. Em diversos pontos da série, Rick e Morty defendem que ao aceitar o caos do mundo, a única saída é encontrar importância no que está por perto e que existem outras coisas melhores e mais interessantes para fazer do que refletir sobre o significado da vida.
A excentricidade do cientista e o a desajuste social do menino ficam ainda mais evidentes quando colocados ao lado dos outros personagens, que são caricaturas cruéis de figuras do mundo real. Na família, há o pai, que é um publicitário desempregado e sem muitas ambições na vida, a mãe, que é cirurgiã-veterinária (e que Rick sempre faz questão de ressaltar que isso não é “medicina de verdade”) e a irmã mais velha de Morty, uma adolescente sofrendo com os dramas típicos da idade.
Além desse conflito de visões, os momentos sentimentais e o humor escrachado e sem sentido tornam “Rick & Morty” um dos desenhos mais absurdos do entretenimento, mas que é tão “desconfortável” que vai te colocar para pensar.
Desenho animado
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