Ney Matogrosso viveu com Marco de Maria durante 13 anos: artista perdeu o marido para o HIV
“Homem com H”, cinebiografia baseada na vida de Ney Matogrosso, desde a infância até se tornar um dos artistas mais influentes da música brasileira, gerou curiosidades em torno da vida pessoal do cantor.
Um dos maiores desafios vivenciados pelo artista foi a morte do ex-marido Marco de Maria, vítima de complicações do HIV, que também levou Cazuza, um de seus grandes amigos.
Marido de Ney Matogrosso morreu de HIV
Ney Matogrosso e Marco de Maria tiveram um relacionamento longo e significativo, marcado sobretudo pela cumplicidade e apoio mútuo, mesmo após o término e diagnóstico de HIV do médico. Os dois ficaram juntos por 13 anos e já tinham se separado quando o diagnóstico foi descoberto.
Marco, nesse meio tempo, foi o único homem com quem Ney viveu sob o mesmo teto, descrevendo o médico como um dos grandes amores de sua vida. Discretos, os dois evitaram os holofotes ao longo dos anos e nunca chegaram a comentar publicamente sobre a descoberta da doença.

Uma passagem de “Homem com H”, no entanto, mostra o momento em que Ney faz o teste e compartilha o resultado com o amado. “Eu me descontrolei duas vezes com esse filme. Era uma cena de eu chegando para o Marco, ele doente, com a Aids, e eu chego com o meu teste negativo. Eles eram tão convincentes que eu tive uma coisa assim, sabe?”, entregou o artista, durante coletiva.
Marco de Maria morreu em 1993, aos 32 anos, por complicações do vírus HIV, já muito debilitado e com apenas pouco mais de 20 quilos. Na madrugada de 16 de fevereiro de 1993, a enfermeira que cuidava do médico ligou para o cantor avisando que ele tinha passado por três paradas cardiorrespiratórias curtas e retornado de todas.
Ney Matogrosso se despediu de Marco de Maria

“Marco, chega. Não se esforce mais. Você já sofreu muito. O amor da gente continua”, chegou a declarar o cantor, de acordo com “Ney Matogrosso — A Biografia” (Companhia das Letras), de Julio Maria. Marco, portanto, teria feito um movimento com a cabeça, quando os sinais vitais pararam.
“Estamos falando de uma época em que contrair Aids significava uma vida solitária. Desde o início, Ney afirmou que estaria ao lado de Marco até o fim”, comentou o autor. “Ney teve que continuar fazendo shows para pagar o tratamento caro, um sacrifício lembrado com lágrimas pela família. Para mim, foi uma lição de caráter e um exemplo para todos que duvidam do amor entre homens”.
Carta de despedida do marido de Ney Matogrosso
Após passar uma temporada com o irmão, Mauro, e Ney em Praia Grande, em São Paulo, Marco deixou cartas que registravam seus últimos sentimentos. As citações, a princípio, foram citadas na biografia “Matogrosso — A Biografia” (Companhia das Letras).
“Saudade do tempo em que eu era possibilidade, o mar era possibilidade, minhas fantasias eram possibilidade, e eu era livre. Agora vejo a amendoeira, não mais a que eu subia, mas uma amendoeira onde não posso subir e construir cabanas. Vejo um mar tão longe de mim e das minhas corajosas investidas de golfinho”.
“O tempo me vendo passar, e o espaço pequeno demais para aventuras reais. Os amigos cada vez mais distantes, os dias menos excitantes e sem a bicicletinha que se impregnava de areia salgada das praias que eu e meu amigo costumávamos visitar! Não há mais vento noroeste que impedia a gente de andar e respirar; não há mais para mim microalgas nas noites de lua cheia nem banhos de mar em água morna dos verões em que eu pulava a janela de madrugada e corria para a praia; e nos temporais eu corria na chuva julgando aquele o ato de maior liberdade para qualquer ser”.
“Que saudade da liberdade! E depois da chuva, procurar cobras nos montes de mato que a maré devolvia e procurar algo muito precioso que o tempo poderia me ofertar. Saudade de voltar para casa, fechar as janelas para os insetos não entrarem e dormir feliz. E amanhã cedo acordar para todas as possibilidades”, escreveu, por fim.