Pela primeira vez na história da televisão brasileira, o núcleo de protagonistas de uma novela estará centrado em atores negros, que romperão os esteriótipos e darão vida a personagens muito bem-sucedidos e poderosos na nova novela das 19h, “Cara e Coragem”.
Escrita por Claudia Souto, a trama conta com Taís Araujo, Paulo Lessa, Claudia di Moura e Ícaro Silva no centro da história. Durante a coletiva de imprensa, os atores ressaltaram a importância de uma produção verdadeiramente representativa: “É um marco histórico na história do audiovisual brasileiro”.
“Cara e Coragem” inova com protagonistas mais representativos
No dia 30 de maio, a nova novela das 19h da TV Globo, “Cara e Coragem”, dará ainda mais protagonismo aos atores negros. No núcleo principal estará a família Gusmão, dona de uma siderúrgica que ditará toda a história da novela.
Donos da Siderúrgica SG, tudo mudará após Clarice, personagem de Taís Araujo, ser misteriosamente assassinada. Diante da tragédia, Leonardo, papel de Ícaro Silva, lutará para assumir o lugar da irmã, enquanto terá uma relação difícil com sua mãe, Martha, interpertada por Claudia di Moura.
“A família Gusmão é a encarnação de uma justiça social, que a gente não vê, mas que vem gritando e reivindicando”, opinou Claudia di Moura em uma coletiva que contou com a presença do Zappeando.
Vivendo o par romântico de Taís Araujo, o ator Paulo Lessa enxerga essa novela como uma oportunidade de oferecer às novas gerações uma produção mais representativa e inspiradora para os jovens negros. “O Ítalo é um personagem muito especial, não é toda hora que a gente faz um protagonista. Se parar para pensar na minha infância, adolescência, eu não tive um Ítalo”, fala sobre seu personagem.
Vivendo um caso secreto com Clarice, o personagem do ator será um ex-segurança, que conquista sua grande virada ao gerenciar uma empresa que garante a segurança de mega empresários, artistas e políticos.
“Ter a oportunidade de ser esse cara, um protagonista negro, muito bem sucedido, que tem uma casa incrível, um carro maravilhoso e não é um personagem superficial, ele é cheio de camada […] Eu estou muito feliz e muito orgulhoso”, confessa, ressaltando toda a importância que esse trabalho tem para ele.
Já ao falar de sua personagem, Claudia di Moura analisa o significado por trás deste destaque. “Eu acho que a Martha é um aperitivo do que o povo preto tem de direito negado ao longo desses séculos. Ela tem riqueza material, empoderamento emocional, oportunidade de desenvolvimento pessoal e que leva uma vida sem medo”, afirma.
Na trama, Martha Gusmão será mãe de Clarice e Leonardo. Rica de berço, ela deixará a empresa nas mãos de sua filha mais velha e sairá para aproveitar a vida, retornando somente depois da grande tragédia.
Ao definir sua personagem como uma mulher livre, a atriz também fala sobre o rompimento dos estereótipos, no qual grande parte dos papéis designados para atores negros são de empregados e criminosos.
Já para Taís Araujo, tudo isso só foi possível porque Claudia Souto, autora da novela, abriu um espaço de escuta, dando voz aos atores negros, para que eles a ajudassem a compor a história. “É um grande passo na dramaturgia e na história. Acho que isso só é possível porque são duas mulheres no comando”, garante a atriz.
“A Claudia propõe personagens com muitas camadas e o Leo é um deles. Ele é um cara jovem, preto, bilionário, tem uma Porsche, ele está em uma empresa de muito sucesso, não sabe o que é pobreza. São várias camadas”, analisa Ícaro Silva.
Ao lado de Nathália Grimberg, diretora da novela, a autora Claudia Souto revelou ter aprendido muito com o elenco escolhido. “Algumas cenas só foram possíveis de eu escrever por causa da Taís, da Cláudia, do Ícaro, do Paulo. Eu, como autora, estou abrindo um espaço, mas eu não entendo muito. Eu sou fruto de uma dramaturgia que eu assisti desde pequena do patriarcado branco”, confessa.
Emocionada com o destaque no novo trabalho, Claudia di Moura fez questão de agradecer a oportunidade de ter sua voz ouvida em um papel de protagonismo. “Obrigada, Claudia Souto, e que bom que essa narrativa chegou pelas mãos de uma mulher. É uma novela que se você abrir a cortina, a diversidade aparece”.
“Nós temos um núcleo preto poderoso, com poder de comando na mão. Essa família Gusmão é rica de nascença, parece até verossímil, já que o audiovisual cristalizou nossas presenças sempre em lugar de subserviência, famílias pretas desestruturadas e ameaçadas”, conclui a atriz, muito feliz com a estreia.
