
Muitos ‘terceiros discos’ lançados. Além de Péricles e Tulipa Ruiz, os britânicos do Mumford & Sons provam que vieram para ficar. Confira os lançamentos de disco na semana.
Péricles: “Feito pra Durar”
Gravadora: FVA Music Solutions
Péricles saiu do Exaltasamba. Fisicamente, todos já sabiam, desde 2012. Mas a característica de seu grupo de pagode, que integrou desde 1986, ainda batia forte na sua trajetória solo.
“Feito pra Durar” marca a saída que os exigentes esperavam. Nada de pagode, então? Sim, o pagode sempre estará lá. E com adendos. O dueto em “Dois Rivais” com Hellen Caroline – que se destacou como a promissora voz feminina do pagode, no programa “Ídolos”, de 2011 – é prova de que Péricles continua fazendo escola.
“Trago a Pessoa Amada”, parceria com Thiaguinho, é aquele single que deve encher os bolsos da gravadora, além de agradar aos fãs. Provavelmente, o take mais radiofônico de “Feito pra Durar” – ao lado de “Erro Meu”, já disponível antes do lançamento do álbum. “É Quente” foi composta pelo filho de Péricles, Lucas Morato, que lançou primeiro disco no ano passado.
Mas a vontade de expandir os limites convence. Deu créditos ao filho Lucas Morato ao incluir “É Quente” no repertório. Na primeira faixa, “À Deriva”, ele faz jus às menções que dedica a Stevie Wonder. “Melhor Eu Ir” inicia com um arranjo de cordas melancólico e mostra uma direção pop que cairia como luva nas mãos de um Lincoln Olivetti. Se a letra é puro Péricles (‘E tudo isso foi ilusão/Todo esse tempo eu perdi em vão/É difícil ter que aceitar’), a musicalidade sutilmente insere arranjos orquestrais.
Não que Péricles queira flertar com o erudito. Na sua versão da “Ave Maria de Schubert”, violões e cavaquinhos se sobrepõem aos arranjos densos de violoncelos. Ele não se esforça para atingir as notas mais marcantes, deixando-a com um toque personalizado digno de quem quer se desvencilhar de um padrão já estabelecido.
Tulipa Ruiz: “Dancê”

Gravadora: Deck
No primeiro disco, a ideia de um ‘pop florestal’. No segundo, ergueu-se uma veia roqueira impensável. Terceiro disco e o que temos: uma Tulipa Ruiz eclética e dançante. Mas, o aspecto da cantora prevalece em todos estes trabalhos: a simpatia positivista.
Não que ela tenha adocicado. “Dancê” não foge das características que a cantora paulistana mostrou nos anteriores “Efêmera” (2010) e “Tudo Tanto” (2012). Na verdade, ela os encaixa numa perspectiva em que a dança do corpo encontra o cérebro, indo do ‘estado zen’ em “Elixir” ao ‘puramente físico’ de “Físico”.
As guitarras de Gustavo Ruiz, irmão e principal aliado musical para materializar as ideias da compositora, são mais emboladas, cheia de efeitos que englobam do space-funk (“Prumo”) à new-wave (“Reclame”).
Figura já emblemática da nova cena musical paulistana, em “Dancê” Tulipa está laureada de participações ilustres.
“Tafetá” traz participação de João Donato (faixa que lembra o dueto que fez com Lulu Santos em “Dois Cafés”, do trabalho anterior).
O mestre da guitarrada Manoel Cordeiro e seu filho, Felipe Cordeiro, fornecem o swing em “Virou”, que também conta com participação de Luiz Chagas, pai de Tulipa.
O virtuoso guitarrista Lanny Gordin, que já tocou com Gilberto Gil e Caetano Veloso, ressurge em “Expirou”.
Kassin, figura recorrente quando se fala de nova música brasileira, torna as coisas mais estranhas ao assumir baixo, sintetizadores e guitarra em “Físico”.
Ainda tem mais: o trio paulistano Metá Metá dá uma pincelada de música afro em “Algo Maior”; Dudu Tsuda experimenta com barulhos inusitados em “Reclame” e “Proporcional”; e um grande naipe de metais fortalece “Jogo do Contente”.
Pelas inúmeras referências arremessadas por Tulipa Ruiz no disco, conectando Azymuth e Eurythmics, Caetano Veloso anos 1980 e George Clinton, entre muitos outros, “Dancê” é menos superficial do que o nome sugere. Uma festa não é suficiente para entendê-lo.
Mumford & Sons: “Wilder Mind”

Gravadora: Glassnote
O banjo ficou encostado, mas não saíram as letras emocionais.
Guitarras com pedais, sintetizadores e percussões de bateria mais ágeis levaram os britânicos do Mumford & Sons a explorar outros timbres vocais – e, consequentemente, mostrar o lado selvagem que o intimismo do folk escondeu nos dois discos anteriores.
Alguns fãs reclamaram dessa investida sônica da banda, espalhando a hashtag #bringbackthebanjo no Twitter.
Claro, já vimos essa transição musical antes no circuito pop: o pano de fundo com Kings of Leon deixando o Southern-rock em segundo plano e o The Killers querendo ser Bruce Springsteen – ou até mesmo o U2 abraçando a eletrônica – dão mais motivos para analisar faixas como “Tompkins Square Park” e “The Wolf” com ceticismo.
A faixa-título e “Broad-Shouldered Beasts” não exprimem a melancolia do grupo, mas, o que crava em “Wilder Mind”, é a vontade de ser maior. As 5 milhões de cópias vendidas de “Babel” (2012) são apenas fragmento do que o grupo ambiciona.
My Morning Jacket: “The Waterfall”

Gravadora: Capitol
Depois do indie-rock, rock psicodélico destaca-se como rótulo preferido das bandas americanas e britânicas deste novo século. Nessa busca, poucas delas conseguem ser originais como o My Morning Jacket, que une a inspiração da soul-music, a inquietude experimental do acid-rock e a criatividade das composições de Jim James.
No sexto disco, “The Waterfall”, há encontros bem-sucedidos com o formato acústico – vide “Like a River” e “Get the Point”.
“Thin Line” destaca decepção amorosa. “In It’s Infancy (The Waterfall)”, por outro lado, mostra o desenvolvimento do ponto em que a banda parou em “Circuital” (2011), enquanto “Spring (Among the Living)” dinamiza diversas possibilidades musicais já apresentadas pela banda, com destaque para o rufar da bateria de Patrick Hallahan.
Somente os mais atentos às andanças da banda notarão as inovações de “The Waterfall”, que não deixa de ser um convite tentador para perceber como as nuances psicodélicas podem adentrar ao rock sem soar revivalista ou mera cópia.
Palma Violets: “Danger in the Club”

Gravadora: Rough Trade
Eles vieram de clubes pequenos do Reino Unido. O auge da reputação veio cedo – talvez, cedo demais.
Quando a revista New Musical Express (NME) selecionou “Best of Friends” a melhor canção de 2012, sem que o primeiro disco do Palma Violets fosse lançado, colocou a banda numa sinuca de bico.
Até hoje a banda tenta provar sua relevância. Não conseguiu com “180” (2013). Se esquecermos que bandas como The Smiths, The Clash e Ramones já deram soluções melhores para o que a banda apresenta, aqui, em “Hollywood, I Got It” e “Secrets of America”, pode ser que “Danger in the Club” conquiste boa aceitação nos inferninhos.
O punk e o pós-punk está junto e misturado no som do Palma Violets, mas boas referências nem sempre salvam um disco.