The Chemical Brothers: “Born in the Echoes”
Gravadora: Virgin/EMI
Sempre que se fala de The Chemical Brothers se imagina algo dos anos 1990, quando o duo britânico parecia disputar com os franceses do Daft Punk e o norte-americano Fatboy Slim a melhor aura criativa do que hoje chamamos EDM (eletrônica música dançante). Isso numa época em que Air, Orbital e The Prodigy também estavam no campo de batalha.
Fato é que o Chemical Brothers continuou na ativa – e continuou aprimorando a essência de suas batidas dançantes, dando semelhante importância às guitarras e às percussões.
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Tom Rowland e Ed Simmons estão mais que bem acompanhados nesta oitava empreitada: o rapper Q-Tip (de A Tribe Called Quest) executa uma função robótica em “Go”. A adorada roqueira indie Annie Clark ( St. Vincent) é totalmente transfigurada em “Under Neon Lights”: prevalece o andamento eletro-funk em meio às programações que nos remontam aos primórdios da eletrônica (tipo Tom Dissevelt).
Até o genioso Beck surge no disco: fechando com chave de ouro, em “Wide Open”, o Chemical Brothers mostra que a necessidade de se preservar tão e somente às pistas já é um enfado.
A eletrônica do grupo abraçou a complexidade do sentimento humano, com todas as vantagens que o aparato digital pode fornecer para que a mensagem chegue de forma eficaz. Isso funciona tanto no techno-house de “Reflection”, como no ambient-experimental de “Radiate” também. Tame Impala: “Currents”
Gravadora: Modular
No terceiro disco, o Tame Impala prova que é uma das principais bandas de rock psicodélico. Prova, mas não convence; Kevin Parker rendeu-se à fórmula de guitarras em looping. Assim como “Innerspeaker” (2010) e “Lonerism” (2012), “Currents” depende muito da dinâmica da bateria – cargo assumido desde 2013 por Julien Barbagallo. Este álbum mostra os australianos flertando com as pistas de dança, como nos mostra o ritmo que conduz “The Moment”. Entre pausas e vozes sonolentas, faixas como “Eventually” e “Cause I’m a Man” conectam os temas existenciais de John Lennon aos experimentos do rock indie após anos 2000. (Nada) De novo.
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https://www.youtube.com/watch?v=hefh9dFnChY Tiago Iorc: “Troco Likes”
Gravadora: Som Livre
Já é o quarto álbum do cantor Tiago Iorc. Diferentemente dos trabalhos anteriores, é centrado em músicas em português, falando sobre “a necessidade de ser visto”. “Gente demais, falando demais, alto demais, vamos atrás de um pouco de paz”, clama o compositor logo na primeira faixa, “Alexandria”. Apesar de conhecido no circuito independente, a carreira de Iorc deu um salto após entregar uma versão de “What a Wonderful World” para a abertura da novela “Sete Vidas”, da TV Globo. Quem espera que perdure a voz adocicada, pode ter uma boa notícia: “Troco Likes” não destoa dos timbres calmos, mas a mensagem incisiva contra o vício tecnológico, que sustenta (e agrava) as vaidades humanas, motiva o cantor a buscar interpretações mais inspiradoras, como faz em “De Todas as Coisas”. Ao invés do ‘estouro’, da ‘catarse’, Iorc opta pela sensibilidade.
https://www.youtube.com/watch?v=OBaEbTuDQEc Public Enemy: “Man Plans God Laughs”
Gravadora: SPITdigital
Mais de 25 anos após lançar dois dos maiores clássicos de hip hop de todos os tempos (“It Takes a Nation of Millions to Hold Us Back”, de 1988, e “Fear of a Black Planet, de 1990), o Public Enemy não para. Chuck D fez questão de entregar as referências deste 15º disco do grupo: ele disse buscar as mesmas motivações que levaram Run the Jewels e Kendrick Lamar a lançarem dois dos mais importantes discos de rap de um ano pra cá. “Man Plans God Laughs” também mira em outro clássico: eles subvertem os Stones – vide “No Sympathy From the Devil” e “Honky Talk Rules”, que insere a guitarra e os trejeitos da banda britânica numa espécie de paródia country. Mesmo comparado aos últimos trabalhos lançados, “Man Plans God Laughs” é uma desvirtuada notável na direção musical do Public Enemy. Não há a participação constante do entertainer Flavor Flav, o que torna a mensagem de Chuck D ainda mais sisuda (Flav foi preso recentemente por dirigir sem carteira de motorista, em Nova York). Ainda assim, canções como “Give Peace a Damn” e “Lost in Space” mostram um panorama inovador e classudo do grupo. O tempo não trouxe desgaste algum a esses eternos rebeldes.
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Gravadora: Sony
O quarteto João Davi (baixo), Artur Roman (voz e guitarra), Wonder Bettin (guitarra) e Alexandre Guedes (bateria) selou o nome Esperanza em 2013, mas já era conhecido no circuito independente como Sabonetes. As coisas mudaram e o som está mais maduro. Se essa é a ideia de pop-rock nacional, digamos que o gênero não está tão decaído assim. A voz límpida de Artur agrada as gravadoras porque são suficientemente pausadas para o acompanhamento – como mostram canções como “Tudo Pro Ar” e a balada “Sobre o Tempo”. Há um pouco de Violetas de Outono e Selton entremeados, o que sugere um aspecto interessante em relação à estética. “Z” sucede o disco homônimo de estreia como Esperanza (2013) e tem tudo para agradar os fãs de programas como “Superstar”; eles não vão se decepcionar com os truques de synths e teclados em meio aos riffs de guitarra oitentistas. É a moda, não?
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